10 árvores típicas do Cerrado
“O Cerrado é a savana mais rica em espécies do mundo e a mais ameaçada pelas atividades antrópicas (de origem humana)”,
diz a carta enviada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) aos ministérios
de Meio Ambiente, Agricultura e Ciência e Tecnologia no dia 17 de abril
de 2017 e publicada na íntegra pelo jornal O Estado de São Paulo. A
carta alerta à necessidade urgente da conservação do Cerrado.
Os
cientistas ressaltaram que praticamente metade da sua vegetação foi
removida e a própria existência deste bioma esta, a curto prazo,
ameaçada. É imprescindível o compartilhamento de informações para que
mais pessoas entendam o que está em jogo, oferecer informações sobre o
que se pode encontrar em suas fitofisionomias e os serviços ambientais
derivados do Cerrado. Afinal, como ressalta uma das mais famosas frases
sobre conservação, “só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo
que se conhece”.
O Cerrado é composto por uma rica flora.
Ratter et al. (1997) encontraram 534 espécies arbóreas em 98
localidades de Cerrado distribuídas no Brasil. Destas, apenas 28
espécies são de ampla distribuição e ocorreram em pelo menos 50% das 98
localidades. Portanto, estas espécies são potenciais indicadoras do
Cerrado Brasileiro e devem ser facilmente reconhecidas para a correta
tipificação do domínio.
Neste post, iremos destacar 10 dessas 28
espécies de plantas de ampla distribuição e exclusivas do Cerrado, além
de algumas curiosidades sobre sua ocorrência, reconhecimento e
aplicabilidade de uso.
1- Annona coricea (araticum ou pindaíba)
Conhecida
popularmente como araticum é muito encontrada nos pomares domésticos, o
seu fruto é comestível, podendo também dele se extrair o suco. Apesar
de possuir um crescimento lento, pode ser utilizada no reflorestamento misto
de áreas degradadas, pois além de se adaptarem com muita facilidade aos
solos pobres, ainda fornecem o fruto que traz de volta a fauna local.
Esta
espécie possui algumas características marcantes que facilitam sua
identificação no campo, além do fruto já citado (verde, bacáceo), caso
não esteja no seu estágio de frutificação pode ser identificada através
da casca rugosa e fina que recobre o troco, este podendo chegar até a 6 m
de altura e 30 cm de diâmetro. Suas folhas são simples, ovaladas,
alternas dísticas e não possuem estípulas (Foto 1). Suas flores são
amarelas e solitárias.
2 – Aspidosperma tomentosum (peroba-do-cerrado)
A “Peroba-do-Cerrado” leva esse nome (Aspidosperma)
pela característica marcante de sua semente. “Aspido” = escudo, “perma”
= semente, ou seja, semente protegida por algo semelhante a um escudo.
Praticamente tudo dela se utiliza. As sementes e os frutos são
utilizados no artesanato; sua madeira, em móveis e peças de decoração;
da casca é produzida a cortiça e a árvore como um todo possui um grande
potencial paisagístico e na recuperação de áreas degradadas. Adapta-se a
qualquer tipo de solo.
Para identifica-la, é preciso se atentar
às seguintes características: O tronco desta espécie pode chegar a 27 cm
de diâmetro, com cor amarelada e fissuras. As folhas são simples,
alternadas e agrupadas ao final dos ramos (congestas) (Foto 2). No
momento em que se destaca a folha, observa-se uma exudação leitosa
abundante (látex). Suas flores são muito pequenas, medindo até 1cm de
diâmetro, com pétalas brancas (Foto 3).
3 – Brosimum gaudichaudii (mama-cadela)
Mais conhecida como “mama-cadela”, está espécie pertence à família Moraceae, a mesma do gênero Ficus. Muito conhecida na sabedoria popular pela sua capacidade de combater gripes e bronquites.
A
espécie é de pequeno porte. Pode atingir até 4 m de altura. Apresenta
ramos tortuosos com folhas simples e alternas dísticas.. (Foto 6). Como
todas as espécies da família Moraceae, possui látex.
A parte
inferior da folha é aveludada (Foto 7) e na parte superior as nervuras
principais são amareladas. Suas flores são minúsculas e ficam agrupadas
no final dos pedúnculos, pendentes nas axilas das folhas. Esta forma
especial de agrupamento das flores de Brosimum gaudichaudii é
característica da espécie (Foto 8). Os frutos são drupas (Foto 9),
formados pelo desenvolvimento e fusão dos ovários das minúsculas flores e
são comestíveis ao natural ou até mesmo na forma de sorvete e doces.
4 – Byrsonima intermedia (murici-do-cerrado)
Cajuzinho do Cerrado,
ou ainda murici-mirim, que vem do tupi-guarani e quer dizer
“árvore-pequena”, esta árvore pode ser encontrada desde Campo-Cerrado
até em quintais para ornamentação e consumo. Fortemente adaptada a
mudanças climáticas, é a primeira a rebrotar quando o habitat é
queimado. É uma planta de crescimento rápido que frutifica de janeiro a
junho e seu fruto pode ser consumido in natura ou processado para produção de doces ou sorvetes.
Como
o nome já diz, esta espécie pode medir de 1 a 2,5m de altura. Suas
folhas são simples e opostas. Uma característica diagnóstica importante
no reconhecimento vegetativo do gênero é observas as estípulas
intrapeciolares (Foto 10 abaixo).
5 – Caryocar brasiliense (pequi)
O famoso pequi
como popularmente é conhecido é muito utilizado na culinária sertaneja.
Seu fruto pode ser consumido na forma de azeite, cozidos, puros ou
misturados com arroz. Já sua madeira é utilizada na construção civil e
naval. Na cidade do Tocantins, há uma cidade com o nome de pequizeiro em
homenagem à árvore.
É uma árvore grossa, com tronco tortuoso,
casca suberosa (rachada) e madeira pesada, porém macia e de boa
durabilidade, podendo atingir até 10 m de altura. Suas folhas são
compostas trifolioladas e opostas (Foto 13). A parte inferior das suas
folhas possuem nervuras proeminentes e densamente pilosa. Esta espécie
pode ocorrer tanto em Cerrados degradados como aqueles bem conservados.
Ocorre de Campos-Cerrados a Cerrado stricto-senso.
6 – Dimorphandra mollis (faveiro)
Está
espécie apresenta os mais variados nomes populares, tais como: faveira,
falso-barbatimão, barbatimão-da-folha- miúda, fava- d’anta e farinha.
Sua semente é extremamente tóxica para o gado, já suas folhas são fonte
de uma vitamina chamada Rutina e são muito estudadas por laboratórios
nacionais e estrangeiros, pois auxiliam na manutenção de vasos capilares
e na luta contra os radicais livres (Souza, M.F 2010).
Atinge de 8
a 14 m de altura com madeira pesada, macia ao corte e pouco compacta.
Esta espécie possui uma casca rica em Tanino e muito utilizada
antigamente para curtir couro. Sua copa é rala e alta. As folhas são
compostas bipinadas, com 6-19 pares de pina. Suas flores são brancas
cremes e estão arranjadas na forma de espigas cilíndricas nos ramos
terminais. O fruto é um legume achatado, lenhoso, contendo de 10-20
sementes duras.
7 – Erythroxylum suberosum (mercúrio-do-campo)Conhecida popularmente como mercúrio-do-campo, suas bagas são utilizadas como substâncias purgativas e suas folhas para tratamento de úlcera. Em áreas que foram danificadas pelo fogo, E. suberosum tem um desenvolvimento relativamente rápido (2 anos) podendo assim ser considerada uma das espécies pioneiras que voltam a ocorrer na região. (Lucena, 2008).
Assim como as demais espécies da família Erythroxylaceae, as folhas são simples, alternas e possuem estípulas em forma de ramentas (Foto 23). Estas estípulas, inclusive, se aglomeram nos ramos numa clara adaptação de proteção à gema da passagem do fogo, que é recorrente no Cerrado.
Para esta espécie, a característica vegetativa marcante está no bordo foliar que é ondulado.
8 – Ouratea spectabilis (folha-de-serra)
Conhecida popularmente como folha-de-serra ou batiputá produz uma grande quantidade de sementes, sendo uma espécie secundária que apresenta ampla dispersão no Cerrado. Ocorre preferencialmente em áreas mais abertas como início de várzeas, onde o suprimento de umidade em profundidade é abundante. Atualmente, tem sido utilizada no paisagismo urbano.
Com até 5 m de altura, está espécie possui casca grossa, folhas simples, duras e com borda serreada (como as bordas das facas de serra). Suas flores são amarelas e agrupadas nos ápices dos ramos. Os frutos possuem aspecto de azeitonas agrupadas.
O gênero é facilmente reconhecido se observado o padrão arqueado das nervuras secundárias de suas folhas (Foto XW).
9 – Qualea grandiflora (pau-terra)
Conhecida popularmente como pau-terra esta árvore é muito utilizada na fabricação de forros e estruturas de móveis, possui um aspecto extremamente retorcido apresentando fácil adaptação a terrenos pobres e a estiagem. É uma excelente espécie para compor plantios ou ser manejada em áreas em processo de restauração.
Com tronco retorcido, sua madeira é moderadamente pesada e pouco resistente ao apodrecimento quando exposta. A casca é acinzentada e fissurada. Atinge até 12m de altura, sua casca é globosa e suas folhas simples, opostas e com nervação secundária bem proeminente. Suas flores são amareladas dispostas em racemos apicais. O fruto é uma cápsula lenhosa contendo sementes aladas.
A dica vegetativa para reconhecer o gênero é observa um par de nectários extra-florais que estão sempre na base da folha, junto à inserção do pecíolo ao ramo.
10 . Stryphnodendron adstringens (barbartimão)
O barbatimão-verdadeiro como é popularmente conhecido é muito utilizado na sabedoria popular como adstringente em banhos de acento pelo alto teor de tanino em sua casca. Uma excelente espécie para uso no paisagismo urbano. Não forma copa. É muito recomendada também em plantios de enriquecimento da vegetação do Cerrado.
Sua madeira é pesada, dura, com fibras revessas e durável em condições adversas sendo assim própria para construção civil. Sua casca possui aspecto escamoso e algumas vezes cristas agudas.
Esta árvore pode chegar até a 5m de altura, suas folhas são alternas, compostas bipinadas, com folíolos em número de 6-8 pares por pina com aspecto coriáceo. As flores são amareladas e em racemos axilares. Os frutos são vagens cilíndricas. Uma curiosidade deste grupo é que todos os foliólulos estão voltados para baixo.
Referências:
Biologo : www.biologo.com.br
Lorenzi, H. 1949.Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol 1. 5. Ed. Nova Odessa-SP: Instituto Plantarum.2008.
Lucena, I.C. et al. Estrutura populacional e distribuição espacial de Dyospirus hispidas e Erythroxylum suberosum em área de Cerrado Senso Stricto sob influência do fogo. II simpósio internacional de savanas tropicais.2008. 7p.
O Estadão : http://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/cientistas-pedem-protecao-imediata-ao-cerrado/
Ratter, J.A. et al. The Brazilian Cerrado Vegetation and Threats to its Biodiversity. Annals of Botany 80:223-230 . 1997.
Souza, M.F. Crescimento e sobrevivênvia de Dimorphandra mollis Benth em semeadura direta, em área de cerrado, no Norte de Minas Gerais. Biblioteca Digital. UFMG.2010. 45p.
Universidade Federal de Minas Gerais: www.ufmg.br/online/arquivos/016702.shtml
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