segunda-feira, 17 de setembro de 2018

10 árvores típicas do Cerrado

10 árvores típicas do Cerrado
“O Cerrado é a savana mais rica em espécies do mundo e a mais ameaçada pelas atividades antrópicas (de origem humana)”, diz a carta enviada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) aos ministérios de Meio Ambiente, Agricultura e Ciência e Tecnologia no dia 17 de abril de 2017 e publicada na íntegra pelo jornal O Estado de São Paulo. A carta alerta à necessidade urgente da conservação do Cerrado.

Os cientistas ressaltaram que praticamente metade da sua vegetação foi removida e a própria existência deste bioma esta, a curto prazo, ameaçada. É imprescindível o compartilhamento de informações para que mais pessoas entendam o que está em jogo, oferecer informações sobre o que se pode encontrar em suas fitofisionomias e os serviços ambientais derivados do Cerrado. Afinal, como ressalta uma das mais famosas frases sobre conservação, “só se preserva aquilo que se ama e só se ama aquilo que se conhece”.

O Cerrado é composto por uma rica flora. Ratter et al. (1997) encontraram 534 espécies arbóreas em 98 localidades de Cerrado distribuídas no Brasil. Destas, apenas 28 espécies são de ampla distribuição e ocorreram em pelo menos 50% das 98 localidades. Portanto, estas espécies são potenciais indicadoras do Cerrado Brasileiro e devem ser facilmente reconhecidas para a correta tipificação do domínio.

Neste post, iremos destacar 10 dessas 28 espécies de plantas de ampla distribuição e exclusivas do Cerrado, além de algumas curiosidades sobre sua ocorrência, reconhecimento e aplicabilidade de uso.
      1- Annona coricea (araticum ou pindaíba)

Conhecida popularmente como araticum é muito encontrada nos pomares domésticos, o seu fruto é comestível, podendo também dele se extrair o suco. Apesar de possuir um crescimento lento, pode ser utilizada no reflorestamento misto de áreas degradadas, pois além de se adaptarem com muita facilidade aos solos pobres, ainda fornecem o fruto que traz de volta a fauna local.
Esta espécie possui algumas características marcantes que facilitam sua identificação no campo, além do fruto já citado (verde, bacáceo), caso não esteja no seu estágio de frutificação pode ser identificada através da casca rugosa e fina que recobre o troco, este podendo chegar até a 6 m de altura e 30 cm de diâmetro. Suas folhas são simples, ovaladas, alternas dísticas e não possuem estípulas (Foto 1).  Suas flores são amarelas e solitárias.
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Foto 1: A. Árvore com altura de 5 metros. B. Ramos portando frutos. C. Casca externa do tronco e ramos. Fernando Tatagiba
     2 –  Aspidosperma tomentosum (peroba-do-cerrado)

A “Peroba-do-Cerrado” leva esse nome (Aspidosperma) pela característica marcante de sua semente. “Aspido” = escudo, “perma” = semente, ou seja, semente protegida por algo semelhante a um escudo. Praticamente tudo dela se utiliza. As sementes e os frutos são utilizados no artesanato; sua madeira, em móveis e peças de decoração; da casca é produzida a cortiça e a árvore como um todo possui um grande potencial paisagístico e na recuperação de áreas degradadas. Adapta-se a qualquer tipo de solo.

Para identifica-la, é preciso se atentar às seguintes características: O tronco desta espécie pode chegar a 27 cm de diâmetro, com cor amarelada e fissuras. As folhas são simples, alternadas e agrupadas ao final dos ramos (congestas) (Foto 2). No momento em que se destaca a folha, observa-se uma exudação leitosa abundante (látex). Suas flores são muito pequenas, medindo até 1cm de diâmetro, com pétalas brancas (Foto 3).

As sementes que dão o nome ao gênero (Foto 4) são arredondadas, achatadas e aladas, sendo muitas sementes por fruto.
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Foto 2: André Simões
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Foto 3: Rosemarie Schossig Torres
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Foto 4 : Mauricio Mercadante

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Foto 5: André Simões
3 – Brosimum gaudichaudii (mama-cadela)
 Mais conhecida como “mama-cadela”, está espécie pertence à família Moraceae, a mesma do gênero Ficus.  Muito conhecida na sabedoria popular pela sua capacidade de combater gripes e bronquites.
A espécie é de pequeno porte. Pode atingir até 4 m de altura. Apresenta ramos tortuosos com folhas simples e alternas dísticas.. (Foto 6). Como todas as espécies da família Moraceae, possui látex.
A parte inferior da folha é aveludada (Foto 7) e na parte superior as nervuras principais são amareladas. Suas flores são minúsculas e ficam agrupadas no final dos pedúnculos, pendentes nas axilas das folhas. Esta forma especial de agrupamento das flores de Brosimum gaudichaudii é característica da espécie (Foto 8). Os frutos são drupas (Foto 9), formados pelo desenvolvimento e fusão dos ovários das minúsculas flores e são comestíveis ao natural ou até mesmo na forma de sorvete e doces.




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Foto 6: Disposições das folhas.
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Foto 7: Parte de baixo da folha aveludada. Fonte: biólogo.com.br
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Foto 8: : Floração característica de Brosimum gaudichaudii. Fonte:biólogo.com.br

Frutos de Brosimum gaudichaudii. Fonte: nodeoito.com
Foto 9: Frutos de Brosimum gaudichaudii. Fonte:odeoito.com

4 – Byrsonima intermedia (murici-do-cerrado)

Cajuzinho do Cerrado, ou ainda murici-mirim, que vem do tupi-guarani e quer dizer “árvore-pequena”, esta árvore pode ser encontrada desde Campo-Cerrado até em quintais para ornamentação e consumo. Fortemente adaptada a mudanças climáticas, é a primeira a rebrotar quando o habitat é queimado. É uma planta de crescimento rápido que frutifica de janeiro a junho e seu fruto pode ser consumido in natura ou processado para produção de doces ou sorvetes.

Como o nome já diz, esta espécie pode medir de 1 a 2,5m de altura. Suas folhas são simples e opostas. Uma característica diagnóstica importante no reconhecimento vegetativo do gênero é observas as estípulas intrapeciolares (Foto 10 abaixo).
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Foto 10: Estípula intrapeciolar de Byrsonima intermedia (murici-mirim). Suas flores são pentâmeras (organizado a base do número 5) que nascem em rácemos de até 10 cm de comprimento. Os frutos são drupas pequenas.

Foto 11: Byrsonima intermedia . Fonte; Rodrigo Polisel
Foto 11: Byrsonima intermedia. Fonte:Rodrigo Polisel

     5 – Caryocar brasiliense (pequi)

O famoso pequi como popularmente é conhecido é muito utilizado na culinária sertaneja. Seu fruto pode ser consumido na forma de azeite, cozidos, puros ou misturados com arroz.  Já sua madeira é utilizada na construção civil e naval. Na cidade do Tocantins, há uma cidade com o nome de pequizeiro em homenagem à árvore.
É uma árvore grossa, com tronco tortuoso, casca suberosa (rachada) e madeira pesada, porém macia e de boa durabilidade, podendo atingir até 10 m de altura. Suas folhas são compostas trifolioladas e opostas (Foto 13). A parte inferior das suas folhas possuem nervuras proeminentes e densamente pilosa. Esta espécie pode ocorrer tanto em Cerrados degradados como aqueles bem conservados. Ocorre de Campos-Cerrados a Cerrado stricto-senso.
Foto 12: Caryocar brasiliense. Fonte: Mauricio Mercadante
Foto 12: Caryocar brasiliense. Fonte: Mauricio Mercadante
Foto 13: Folhas do pequi. Fonte: Um pé de que?
Foto 13: Folhas do pequi. Fonte: Um pé de que?
Foto 14: Casca da Caryocar brasiliense.Fonte: Fernando Tatagiba
Foto 14: Casca da Caryocar brasiliense.Fonte: Fernando Tatagiba
Foto 15: Fruto do pequi. Fonte: Coisas do Nordeste
Foto 15: Fruto do pequi. Fonte: Coisas do Nordeste
Foto 16: Fruto do pequi cortado ao meio. Fonte: Cia Ecológica
Foto 16: Fruto do pequi cortado ao meio. Fonte: Cia Ecológica
  6 – Dimorphandra mollis (faveiro)

Está espécie apresenta os mais variados nomes populares, tais como: faveira, falso-barbatimão, barbatimão-da-folha- miúda, fava- d’anta e farinha. Sua semente é extremamente tóxica para o gado, já suas folhas são fonte de uma vitamina chamada Rutina e são muito estudadas por laboratórios nacionais e estrangeiros, pois auxiliam na manutenção de vasos capilares e na luta contra os radicais livres (Souza, M.F 2010).

Atinge de 8 a 14 m de altura com madeira pesada, macia ao corte e pouco compacta. Esta espécie possui uma casca rica em Tanino e muito utilizada antigamente para curtir couro. Sua copa é rala e alta. As folhas são compostas bipinadas, com 6-19 pares de pina.  Suas flores são brancas cremes e estão arranjadas na forma de espigas cilíndricas nos ramos terminais. O fruto é um legume achatado, lenhoso, contendo de 10-20 sementes duras.
Foto 17; Inflorescência de D.mollis Fonte: Mauricio Mercadante
Foto 17: Inflorescência de D.mollis Fonte: Mauricio Mercadante
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Foto 18: Inflorescência de D.mollis Fonte: Mauricio Mercadante
Imagem: Fruto de D.mollis Fonte: Ecodata
Foto 19 : Fruto de D.mollis Fonte: Ecodata
   7 – Erythroxylum suberosum (mercúrio-do-campo)
Conhecida popularmente como mercúrio-do-campo, suas bagas são utilizadas como substâncias purgativas e suas folhas para tratamento de úlcera. Em áreas que foram danificadas pelo fogo, E. suberosum tem um desenvolvimento relativamente rápido (2 anos) podendo assim ser considerada uma das espécies pioneiras que voltam a ocorrer na região. (Lucena, 2008).
Assim como as demais espécies da família Erythroxylaceae, as folhas são simples, alternas e possuem estípulas em forma de ramentas (Foto 23). Estas estípulas, inclusive, se aglomeram nos ramos numa clara adaptação de proteção à gema da passagem do fogo, que é recorrente no Cerrado.
Para esta espécie, a característica vegetativa marcante está no bordo foliar que é ondulado.
Foto 20: E.suberosum Imagem: Inflorescência de Fonte: Jonasses Smlt
Foto 20: E.suberosum Fonte: Jonasses Smlt
Imagem: Inflorescência de Fonte: Jonasses Smlt E.suberosum. Fonte: Jonasses Sml
Foto 21 : Inflorescência de E.suberosum Fonte: Jonasses Smlt 
Imagem: Ramo de E.suberosum. Fonte: Moreira e Santos
Foto 22: Ramo de E.suberosum. Fonte: Moreira e Santos
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Foto 23: Detalhe das estípulas em forma de ramentas de Erythroxylum suberosum (mercúrio-do-campo).
  8 – Ouratea spectabilis (folha-de-serra)
Conhecida popularmente como folha-de-serra ou batiputá produz uma grande quantidade de sementes, sendo uma espécie secundária que apresenta ampla dispersão no Cerrado. Ocorre preferencialmente em áreas mais abertas como início de várzeas, onde o suprimento de umidade em profundidade é abundante. Atualmente, tem sido utilizada no paisagismo urbano.
Com até 5 m de altura, está espécie possui casca grossa, folhas simples, duras e com borda serreada (como as bordas das facas de serra). Suas flores são amarelas e agrupadas nos ápices dos ramos. Os frutos possuem aspecto de azeitonas agrupadas.
O gênero é facilmente reconhecido se observado o padrão arqueado das nervuras secundárias de suas folhas (Foto XW).
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Foto 24: Ouratea spectabilis. Fonte: Atlas Unesp


Foto 25: Nervura secundária arqueada típica de Ouratea. Espécie: Ouratea spectabilis.
Foto 25: Nervura secundária arqueada típica de Ouratea. Espécie: Ouratea spectabilis.                                                            
  9 – Qualea grandiflora (pau-terra)
Conhecida popularmente como pau-terra esta árvore é muito utilizada na fabricação de forros e estruturas de móveis, possui um aspecto extremamente retorcido apresentando fácil adaptação a terrenos pobres e a estiagem. É uma excelente espécie para compor plantios ou ser manejada em áreas em processo de restauração.
Com tronco retorcido, sua madeira é moderadamente pesada e pouco resistente ao apodrecimento quando exposta. A casca é acinzentada e fissurada. Atinge até 12m de altura, sua casca é globosa e suas folhas simples, opostas e com nervação secundária bem proeminente. Suas flores são amareladas dispostas em racemos apicais. O fruto é uma cápsula lenhosa contendo sementes aladas.
A dica vegetativa para reconhecer o gênero é observa um par de nectários extra-florais que estão sempre na base da folha, junto à inserção do pecíolo ao ramo.

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Foto 26: Qualea grandiflora. Fonte: Plante Cerrado
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Foto 27: Flores de Q. grandiflora. Fonte: Pirenopolis.com

Foto 28: Fruto de Q. grandiflora. Fonte: Pirenopolis
Foto 28: Fruto de Q. grandiflora. Fonte: Pirenopolis
Fonte 29: Tronco de Q. grandiflora Fonte: Pirenopolis
Foto 29: Tronco de Q. grandiflora Fonte: Pirenopolis                          

  10 . Stryphnodendron adstringens (barbartimão)
O barbatimão-verdadeiro como é popularmente conhecido é muito utilizado na sabedoria popular como adstringente em banhos de acento pelo alto teor de tanino em sua casca. Uma excelente espécie para uso no paisagismo urbano. Não forma copa. É muito recomendada também em plantios de enriquecimento da vegetação do Cerrado.
Sua madeira é pesada, dura, com fibras revessas e durável em condições adversas sendo assim própria para construção civil. Sua casca possui aspecto escamoso e algumas vezes cristas agudas.
Esta árvore pode chegar até a 5m de altura, suas folhas são alternas, compostas bipinadas, com folíolos em número de 6-8 pares por pina com aspecto coriáceo. As flores são amareladas e em racemos axilares. Os frutos são vagens cilíndricas. Uma curiosidade deste grupo é que todos os foliólulos estão voltados para baixo.
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Foto 30: Casca de S.adstringens Fonte: Tudo sobre plantas

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Foto 31: Distribuição das folhas Fonte: Tudo sobre plantas
Foto 32: Fruto. Fonte : O extensionista
Foto 32: Fruto. Fonte : O extensionista

Foto 33: Inflorescência. Fonte: tropical.theferns
Foto 33: Inflorescência. Fonte: tropical.theferns
Referências:

Biologo : www.biologo.com.br

Lorenzi, H. 1949.Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol 1. 5. Ed. Nova Odessa-SP: Instituto Plantarum.2008.

Lucena, I.C. et al. Estrutura populacional e distribuição espacial de Dyospirus hispidas e Erythroxylum suberosum em área de Cerrado Senso Stricto sob influência do fogo. II simpósio internacional de savanas tropicais.2008. 7p.

O Estadão : http://ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar/cientistas-pedem-protecao-imediata-ao-cerrado/

Ratter, J.A. et al.  The Brazilian Cerrado Vegetation and Threats to its Biodiversity. Annals of Botany 80:223-230 . 1997.


Souza, M.F. Crescimento e sobrevivênvia de Dimorphandra mollis Benth em semeadura direta, em área de cerrado, no Norte de Minas Gerais. Biblioteca Digital. UFMG.2010. 45p.
Universidade Federal de Minas Gerais: www.ufmg.br/online/arquivos/016702.shtml

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