A Penicilina e sua origem
A
cena se passa em 1928, no hospital Saint Mary’s, em Londres, no
bagunçado laboratório do especialista em bacteriologia Alexander
Fleming, um simpático senhor escocês de cabelos brancos, olhos azuis,
com jeitão de professor
Pardal. Durante dias, ele observava uma colônia de Staphylococcus
aureus, o temido bacilo que causa infecção generalizada. Numa certa
manhã, ao chegar,
percebeu que havia deixado a porta do laboratório aberta e, por isso,
uma de suas placas de cultivo de micróbios apresentava manchas de bolor
esverdeado. O fungo provavelmente entrara pelo corredor, proveniente do
andar de baixo (onde funcionava justamente o laboratório de bolores).
Fleming tinha esquecido de colocar a bandeja com a cultura do bacilo na
incubadora, como de costume – cansado e doido para sair de férias, o professor até pensou em deixar tudo ali mesmo na bancada, onde os bacilos poderiam crescer mais rápido.
Em
vez de se chatear com o incidente da pesquisa embolorada, Fleming
resolveu tirar proveito dele e observar o que tinha acontecido ali.
Percebeu que o fungo Penicillium notatum havia matado as bactérias. A
partir dele, extraiu a penicilina. Mas, afinal, o que havia de tão
revolucionário nessa substância? Simples: como a penicilina é um
bactericida que não é tóxico para o ser humano, pode ser usada para
combater infecções sem enfraquecer as defesas do organismo. “Não
inventei a penicilina”, dizia Fleming. “A natureza é que a fez. Eu só a
descobri por acaso.”
Fleming,
aliás, era o rei do acaso. Anos antes, em 1922, ele estudava a
proliferação de micróbios em colônias cultivadas a partir de secreções
nasais e, sem querer, por estar resfriado, deixou cair uma lágrima sobre
a placa. No dia seguinte, notou que o local onde a lágrima havia caído
estava isento de micróbios. Foi então que ele descobriu que tecidos e
secreções do corpo humano possuem uma substância – a lisoenzima – que
tem a capacidade de dissolver certas bactérias.
Depois
da descoberta da penicilina, Fleming ficou paranoico atrás de fungos,
chegando a virar motivo de piada. Para dar continuidade a sua pesquisa,
comprava qualquer objeto mofado que via pela frente, até mesmo galochas e
tecido velho de guarda-chuvas, e vivia revirando a casa de amigos atrás
de um ou outro pequeno bolor.
Fleming investia o tempo todo em estudos e
aplicações do remédio em tecidos infeccionados, lavando os ferimentos na
pele com a droga ou aplicando-a em olhos infectados.
Suas pesquisas, entretanto, ainda estavam longe de considerar a
penicilina administrada em comprimidos ou diretamente na veia do
paciente – esta sim viria a ser uma grande revolução na medicina. Na
época de Fleming, os médicos eram um tanto resistentes a substâncias que
pudessem ser injetadas na veia para afastar infecções.
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