quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Datado de 5.880 anos, este pode ser um dos sambaquis mais antigos do país

Alexandre Melo
As obras de duplicação do Lote 2, da BR-470, em Ilhota, trouxeram uma grande descoberta para a humanidade. Um sítio arqueológico, do tipo sambaqui, com restos de duas ossadas humanas, além de restos de carvão provienientes de duas fogueiras. A área, de cerca de mil metros quadrados, fica próxima à entrada do bairro Pedra de Amolar, distante 18,5km do litoral e pertence ao Governo Federal. A descoberta aconteceu em 2017, mas as escavações no local somente ocorreram em maio deste ano depois de autorizadas pela IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 


O consórcio Sotepa/Ivaí, responsável pelas obras naquele trecho da rodovia, contratou a empresa Espaço Arqueologia, de Tubarão, no sul do Estado, para o trabalho de coleta e levantamento do material encontrado. O estudo envolveu pesquisadores das áreas de biologia, história, arqueologia e afins.

As ossadas, de uma mulher aparentando entre 20 e 30 anos, e uma outra pessoa de sexo não identificado, foram enviadas para análise em um laboratório nos Estados Unidos e, há cerca de duas semanas, os pesquisadores catarinenses receberam a resposta de que elas datam de 5.880 anos. Isso levou à constatação de que se trata de um dos sítios arqueológicos mais antigos do Estado e, talvez, do Brasil, já que arqueólogos calculam que os primeiros sambaquis surgiram no Brasil há cerca de 6.500 anos.

Segundo o arqueólogo e diretor da Espaço Arqueologia, Valdir Luiz Schwengber, o objetivo do estudos em sambaquis - hoje já são mais de 120 em todo o Estado - é contribuir para um maior entendimento em torno das dinâmicas de ocupação, o ambiente e as formas de vida e sobrevivência no território há milhares de anos pelos grupos de pescadores, caçadores e coletores. O Vale do Itajaí, segundo ele, é a região do Estado com menor número de sambaquis. Daí porque a relevância do sítio arqueológico encontrado em Ilhota. Aliás, o segundo existente no município vizinho. O outro foi descoberto na década de 1970, porém, Schwengber não sabe precisar a sua localização. O sambaqui agora descoberto recebeu o nome de Sambaqui Ilhota 2.

De acordo com o arqueólogo, evidências indicam que o sambaqui não era um local de moradia, mas de passagem ou de cerimônias ritualísticas, como a de sepultamento. Ele faz essa afirmação baseado no material recolhido, além do fato da área originalmente não ter curso de água potável e ter sido uma ilha inserida numa laguna. "Há milhares de anos, havia ali uma grande lagoa de água não potável (salobra) e, no meio dela, essa ilha", explica Schwengber. O solo, explica ele, é bastante argiloso, o que também é indicativo de que se tratava de uma área inundada. Outro fator que o leva para essa direção é a de que não foram encontrados restos fossilizados de mamíferos marinhos ou de animais com hábitos florestais, bastante comuns nos sambaquis "continentais". 

Os dados apontam ainda para uma dieta composta exclusivamente por peixes, sendo a maior incidência de espécies como o bagre, a miraguaia, o sargo-de-dente, o robalo e a corvina. "O pequeno tamanho dos peixes capturados indica que a base alimentar era pautada na pesca de peixes juvenis presentes nas águas rasas e, eventualmente, peixes de grande porte que entram no período da desova", explica o arqueólogo. 

Schwengber afirma que o sítio arqueólogico de Ilhota é de extrema relevância para os estudos sobre os sambaquis, por ser este um dos mais antigos até hoje já descobertos em Santa Catarina. Além disso, lembra ele, "hoje é muito raro encontrar sambaquis na região do Vale do Itajaí, os últimos remontam há quase 50 anos". 

A área está atualmente cercada e sinalizada, não correndo nenhum risco de desaparecer em função da duplicação da BR-470. Já os esqueletos estão no laboratório da empresa responsável pelo trabalho. A pesquisa, segundo Schwengber, deve ser concluída até dezembro deste ano. Depois, as ossadas serão eentregues para Univerisade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), em Criciúma-SC.

Os sambaquis

Os sambaquis são áreas, erguidas há milhares de ano pelos povos que habitaram o litoral do Brasil na Pré-História. Essas áreas ficam localizadas preferencialmente em baías, praias ou na foz de grandes rios, nas chamadas regiões lagunares. Os sambaquis são os mais visíveis testemunhos da ocupação humana empreendida no período pré-colonial ao longo de todo o nosso litoral. 

Em Santa Catarina, suas estruturas são compostas por camadas de conchas, sedimentos e restos de fogueiras. A própria origem em Tupi da palavra sambaqui significa "amontoado de conchas". Mas esses espaços também podem conter ossos de mamíferos, equipamentos primitivos de pesca e até objetos de arte, num verdadeiro arquivo pré-histórico. Os arqueólogos calculam que existam milhares de sambaquis espalhados pela costa do país. Os mais antigos surgiram há cerca de 6 500 anos.




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