25 Agosto
Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê), BA
Na região central do Estado da Bahia, borda leste da Chapada
Diamantina, ocorre um extenso planalto carbonático, drenado pela bacia
do Rio do Una, no qual se insere o Poço Encantado, uma caverna de
aspecto único e rara beleza, que atrai uma média de 7.000 visitantes por
ano.
A caverna do Poço Encantado é uma feição cárstica desenvolvida em
dolomitos do Grupo Una, com grande relevância científica, uma vez que se
trata de um local de observação direta do nível d’água, através de um
grande e profundo lago, ilustrando um dos padrões morfológicos típicos
de cavernas da região (salões de abatimento em fundos de depressões que
levam ao nível d’água), servindo de abrigo para espécies endêmicas da
região da Chapada Diamantina, o que torna esta caverna extremamente
importante para preservação (Karmann, 2000) .
Nos meses de abril a setembro um feixe de luz solar penetra através
do pórtico de entrada, compondo um cenário que representa um dos mais
conhecidos cartões postais da Chapada Diamantina. A caverna está situada
no fundo de uma dolina. No seu interior encontra-se um salão, com um
lago de águas cristalinas e tons azulados. A morfologia dominante na
caverna é de abatimento com um padrão em rede parcialmente preservado.
Mas atenção, se você está pensando em um belo mergulho nas águas
encantadas do poço, saiba que não é permitido. Até 1990 ainda era
possível se banhar nas águas do Poço Encantado, mas para a preservação
do local os mergulhos foram proibidos.
Geologia
O Poço Encantado desenvolve-se em rochas carbonáticas
neoproterozóicas da Formação Salitre, unidade superior do Grupo Una
(Bonfim & Pedreira, 1990). De acordo com Inda & Barbosa (1978), o
Grupo Una engloba seqüências cronocorrelatas ao Grupo Bambuí.
Observações de campo segundo Pereira (1998) confirmam parcialmente
para a região do rio Una, a leste do Poço Encantado, a estratigrafia de
Misi (1979) e Souza et al. (1993) definida para a Formação Salitre na
bacia de Iraquara, definindo uma unidade basal, constituída por
calcilutitos e calcissiltitos avermelhados, finamente laminados
correspondentes a unidade Nova América. No topo do pacote carbonático,
dominam calcarenitos cinzentos finamente laminados (alternância de
lâminas carbonáticas e lâminas com grande concentração de quartzo e
feldspatos subordinados) atribuídos a Unidade Irecê. Em posição
intermediária ocorrem calcarenitos cinzentos com intercalações de chert,
passando para uma porção superior maciça com estilólitos, localmente
exibindo brechas intraformacionais, com intraclastos centimétricos.
Pereira (1998) registra ainda porções de calcarenitos esbranquiçados
laminados, as vezes oolíticos e com estratificações cruzadas de pequeno
porte, similares às descrições de Souza et. al., (1993), referentes à
Unidade Jussara, de posição intermediária. Pela razão CaO/MgO estes
carbonatos são classificados como dolomitos a calcários dolomíticos.
Formação da caverna
As cavernas se formam através da dissolução das rochas, pelas águas
das chuvas que se infiltram no subsolo. Estas águas se misturam com
gases da atmosfera e restos de vegetais presentes no solo, tornando-se
ligeiramente ácidas. No seu percurso descendente, em direção ao lençol
freático, estas águas percolam as estruturas presentes nas rochas e
começam a abrir pequenos vazios. Com o avanço do tempo, estes vazios
transformam-se em cavidades subterrâneas, às quais damos o nome de
cavernas, que vão sendo alargadas por desmoronamentos da rocha.
Os desmoronamentos ocorrem ao longo dos planos de fraqueza existentes
na rocha, como os planos de acamamento e fraturas. Estes planos, por
sua vez, estão associados à história de formação da rocha, podendo ser
associados aos planos de deposição das camadas ou planos de fratura.
A caverna do Poço Encantado apresenta desenvolvimento de 506m em
planta, com duas direções principais, uma orientada genericamente a NS e
outra próxima a EW, preferencial. Seu desnível é de aproximadamente
100m até o nível d’ água. Medidas obtidas através de mergulhos, indicam
uma lâmina d’água com até 65m de profundidade. A morfologia de
abatimento é predominante na caverna. Apesar disto, dois domínios
morfológicos podem ser identificados: rede de condutos secos superiores
(no setor oeste da caverna) e salão do lago, que ocupa quase toda metade
leste da caverna (Karmann, 2000).
Os estudos existentes até o momento sugerem que a Caverna do Poço
Encantado, começou a se formar a cerca de 50 Milhões de anos atrás.
Entretanto, estas datas ainda carecem de estudos confirmatórios.
Vegetação
Na região grande parte da vegetação natural é caracterizada como
Floresta Estacional Decídua Submontana (RadamBrasil, 1981), apresentando
árvores de grande porte e madeira de lei, entretanto a mesma foi
devastada e substituída por pastagens e agricultura. Atualmente restam
na área somente agrupamentos residuais esparsos, remanescentes da
formação vegetal primária. Nos arredores do Poço Encantado a vegetação
original encontra-se totalmente descaracterizada.
Fauna do Lago
Os únicos vertebrados aquáticos viventes do lago são representados
por uma população de bagres cegos. Tal espécie, ainda não descrita,
pertence à Família Pimelodidae, Subfamília Heptapterinae. Estes peixes
estão concentrados próximos às margens do lago, desde a superfície até
10 m de profundidade. Folhas, troncos, galhos, insetos (especialmente
coleópteros) e alguns pequenos vertebrados que caem acidentalmente na
água através da grande abertura existente no salão, são normalmente
observados no lago.
Quanto aos vertebrados que podem utilizar a caverna como abrigo foram
registradas espécies de morcegos, em relação à fauna de artrópodes
terrestres foram encontrados artrópodes como heterópteros, dípteros,
himenópteros, lepidópteros, crustáceos, isópodes e aracnídeos.
E vocês já conheciam ou visitaram esse lugar? Conte nos comentários
sua experiência e deixem sugestões de sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil que querem ver por aqui!!
Referências Bibliográficas
Bonfim, L.F.C.; Roch, A.J.D.; Pedreira, A.J.; Morais, J.C., P;
Guimaraes, J.T.; Tesch, N.A. 1985. Projeto Bacia de Irecê. Salvador,
CPRM. (Relatório Final).
Inda, H.A.V. & Barbosa, J.F. -1978- Texto Explicativo para o Mapa
Geológico do Estado da Bahia, escala 1:1.000.000. SME/CPRM, Salvador
Karmann, I; Pereira, R. G. F. de A.; Mendes, L. F. Poço Encantado,
Chapada Diamantina (Itaetê), BA: caverna com lago subterrâneo de rara
beleza e importância cientifica. In: Sitios geológicos e paleontológicos
do Brasil[S.l: s.n.], 2002.
Misi, A. -1979- O grupo Bambui no Estado da Bahia. In: Inda,
H.V.A.(Ed.) Geologia e recursos minerais do Estado da Bahia:textos
básicos. Salvador: SME, V.1, p.-119-154
Pereira, R.G.F. de A. –1998- Caracterização Geomorfológica e
Geoespelelógica do Carste da Bacia do Rio Una, Borda Leste da Chapada
Diamantina (Município de Itaetê, Estado da Bahia). Dissertação de
Mestrado. Instituto de Geociências USP.
Radambrasil, Projeto.1981. Folha SD 24 (Salvador). Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral -. Rio de Janeiro
Souza, S.L.; Brito, P.C.R. e Silva, R.W.S. 1993. Estratigrafia,
sedimentologia e recursos minerais da Formação Salitre na Bacia de
Irecê, Bahia. Integração e síntese por Augusto José Pedreira. CBPM,
Salvador. Vol.2.
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