Geneticista afirma: Povo de Luzia veio da América do Norte
O
geneticista Nathan Nakatsuka conta como suas
descobertas mudam o que sabemos sobre o povoamento da América do Sul e
os ancestrais dos índios
Alana Sousa Publicado em 07/02/2019, às 17h00 - Atualizado às 17h13
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Getty Images
A
questão de como os seres humanos colonizaram a América gera
controvérsias há décadas. Enquanto a teoria mais aceita é de que vieram
há 14 mil anos pelo estreito de Bering, uma outra hipótese, defendida
principalmente no Brasil, defende que os humanos já habitavam estas
terras há 36 mil anos e a migração asiática, da qual descendem os índios
atuais, veio depois.
Parte dessa hipótese é de que Luzia, fóssil
humano mais antigo encontrado na América do Sul, com cerca 13 mil anos,
é originada de migrações vindas da Austrália ou da África . Agora, um
estudo que reuniu importantes estudiosos pretende mostrar que, na
verdade, a origem dos povos da América Central e do Sul vem da
“Civilização de Clóvis”, uma cultura que originou os índios nativos da
América do Norte e que serve como principal prova da hipótese asiática. Lapa do Santo Reprodução
Cultura Clóvis
A
civilização de Clóvis foi chamada assim por causa de “pontas de lança”
encontradas perto da cidade de Clóvis (Novo México). Esses artefatos
eram usados para caçar mamutes. A tese tradicional é que o povo de
Clóvis consistiu nos primeiros habitantes do Novo Mundo.
Um
dos principais autores do estudo, Nathan Nakatsuka, aluno de doutorado
no David Reich - Laboratório da Escola Médica de Harvard, conversou com a
AH sobre as recentes descobertas. “Acreditava-se que a cultura de
Clóvis fosse restrita apenas à América do Norte. Nosso estudo mostrou
que a ancestralidade genética do povo chegou até a América do Sul”,
conta o autor.
O estudo
O estudo usou de amostras do sítio
da Lapa do Santo, um dos maiores do Brasil, para provar que os
indivíduos vindos de lá não são geneticamente relacionados a qualquer
grupo de fora da América. Sobre a possibilidade do sítio de Lagoa Santa,
local onde o fóssil de Luzia foi encontrado, ter uma semelhança
genética com a Lapa do Santo, Nakatsuka diz: “Os indivíduos da Lapa do
Santo e, provavelmente, também os indivíduos de Lagoa Santa tinham
afinidade genética com o indivíduo associado à cultura Clovis. Ainda não
podemos ter certeza, pois não temos o DNA de Luzia. Se ela está
relacionada com os indivíduos da Lapa do Santo, então seria verdade que
ela tem uma relação genética mais próxima com o indivíduo Anzick-1
associado à cultura Clovis”.
Seria então Luzia uma descendente da
cultura Clovis? Essa hipótese foi levantada e descartada por arqueólogos
algumas vezes, há ainda muitas lacunas a serem preenchidas, para
afirmar que Luzia está ligada ao grupo da Lapa do Santo, os arqueólogos
precisariam saber a rota exata da chegada das primeiras pessoas ao
Brasil. Lagoa SantaReproduçãoA
pesquisa de Nathan Nakatsuka tem uma grande importância para o mundo
arqueológico, como o autor nos conta, foi primeira vez que algumas das
pessoas iniciais na América Central e na América do Sul tinham uma
afinidade distinta com o indivíduo Anzick-1, da cultura Clóvis:
“Fornecemos mais evidências de que as pessoas iniciais que entravam na
América do Sul irradiavam rapidamente, elas eram caçadores-coletores,
provavelmente se separando rapidamente em busca de novas fontes de
alimento”. E complementa que foi possível observar que o povoamento da
América do Sul foi muito complexo: “As pessoas provavelmente eram muito
inovadoras, adaptando-se rapidamente a novos ambientes para conseguir
comida e sobreviver em condições muito diferentes”.
Um grande
aliado dos estudiosos nessa descoberta foi o avanço tecnológico, que em
ambientes difíceis se torna essencial, permitindo analisar dados para
determinar as mudanças biológicas que aconteceram ao longo do tempo e
começar a colher melhores amostras de regiões com condições ambientais
extremas.
“Estamos procurando amostras de novos lugares e
diferentes períodos de tempo na América do Sul, como Caribe, Colômbia,
outras partes e períodos de tempo do Brasil, Argentina, Equador, os
maiores impérios no Peru e na Bolívia, Chile e muitas outras regiões”,
finaliza em tom otimista o autor.
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