Baixa
diversidade genética humana
Folha de São Paulo, novembro 2001
Análise detalhada do cromossomo humano 21 revela
que a diversidade genética entre indivíduos é menor
do que se imaginava, indica um estudo publicado hoje por cientistas
da empresa de biotecnologia californiana Perlegen Sciences na revista
"Science" (www.sciencemag.org).
O grupo de pesquisadores, liderado pelo geneticista
David Cox, descobriu que uma boa parcela dos nucleotídeos ("letras"
de DNA) que podem variar de um indivíduo para outro está
trancada em grandes pacotes de DNA, que normalmente não se alteram
no passar das gerações.
Além de ser um sinal de que grupos distintos
podem ser menos diferentes do que se pensava, a leitura faz crescer
a expectativa de que a comparação entre genomas possa
ser usada com mais facilidade em pesquisas médicas. Pelo que
os cientistas observaram, pode se tornar menos penosa a tarefa de comparar
DNA para identificar genes importantes, como os que determinam predisposição
para doenças ou resistência do organismo a medicamentos.
Os pesquisadores da Perlegen estudaram o cromossomo
21 em 20 indivíduos de várias etnias (entre negros, asiáticos
e caucasianos).
No grupo analisado, os nucleotídeos que podem
variar de um indivíduo para outro (os polimorfismos de nucleotídeo
único, ou SNPs) estavam presos em pacotes maiores do que se imaginava,
com menor variabilidade.
Esses pacotes são os chamados haplótipos,
blocos de DNA transmitidos em conjunto para os descendentes. O haplótipo
é um trecho do genoma que, em um único cromossomo de cada
par, não pode ter partes da mãe e do pai juntas, apenas
de um deles.
No cromossomo 21, "mais de 80% da amostra global
humana pode ser tipicamente caracterizada por apenas três haplótipos
comuns", escreve Cox no artigo. A humanidade não teria,
assim, uma variedade de combinações tão grande,
já que a maioria deles se situaria nesses blocos fixos.
Alguns cientistas vêem com ceticismo a constante
e ininterrupta mudança de previsões sobre a quantidade
de genes que compõem o genoma humano. Para a geneticista brasileira
Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP, pode ser perigoso
generalizar as descobertas do cromossomo 21 para descrever aquilo que
seria o genoma inteiro. "Não dá para extrapolar a
partir de um único cromossomo", diz.
Dados genômicos de duas dezenas de indivíduos
podem parecer pouco para representar um conjunto da população
mundial, mas o estudo coordenado por Cox foi um dos mais abrangentes
já feitos.Porém, mesmo somado a outros estudos realizados,
o que se sabe sobre diversidade genética humana ainda é
pouco.
"Conclusões mais abrangentes sobre as estruturas
de haplótipos no genoma humano não podem ser tiradas com
um grau alto de certeza porque o número de cromossomos analisados
ainda é pequeno", escreve Kok.
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