Pesquisa indica descoberta de nova espécie humana nas Filipinas
O H. luzonensis teria vivido na caverna de Callao, na ilha de Luzón, nas Filipinas, entre 67 mil e 50 mil anos atrás. Estudo foi publicado na revista 'Nature' nesta quarta (10).
Escavação onde foram encontrados os fósseis do Homo luzonensis — Foto: AFP PHOTO / FLORENT DETROIT / ARMAND SALVADORE NUJARES
Um artigo científico publicado na revista "Nature" desta quarta-feira
(10) traz evidências do que pode ser uma grande descoberta: uma nova
espécie humana, provavelmente mais baixa e com uma mistura de traços
arcaicos e modernos, que os pesquisadores deram o nome de Homo luzonensis.
O H. luzonensis
teria vivido na caverna de Callao, na ilha de Luzón, nas Filipinas,
entre 67 mil e 50 mil anos atrás. Foi lá que foram encontrados treze
pequenos fósseis: dentes, falanges do pé e da mão, e fragmentos de
fêmur. Dois destes fragmentos de fóssil deram a pista sobre o período de
vida da espécie através da datação radiométrica.
A nova espécie apresenta ao mesmo tempo "elementos e características muito primitivas semelhantes aos do Australopithecus e outras, modernas, próximas aos do Homo sapiens", ressalta Florent Detroit, paleoantropólogo do Museu do Homem e principal autor do estudo.
Caracterísitcas
O Homo luzonensis
"era provavelmente pequeno, se julgarmos pelo tamanho de seus dentes",
mas "não é um argumento suficiente" para afirmá-lo, indica o
pesquisador.
Segundo ele, a espécie não é um ancestral direto do homem moderno, mas sim uma espécie vizinha, contemporânea do Homo sapiens, mas com várias características primitivas.
Tratam-se dos restos humanos mais antigos encontrados nas Filipinas, precedendo os primeiros Homo sapiens datados de 30 mil a 40 mil anos encontrados na ilha de Palawan, a sudoeste do arquipélago.
Debates à vista
Comparação de dentes fósseis das espécies recém-descobertas Homo
Luzonesis e a de Errectus Sapiensa desenterrada durante a escavação na
Gruta de Callao, no norte da ilha de Luzon, no norte das Filipinas. —
Foto: AFP PHOTO / Florent DETROIT / Florent DETROIT
Sua análise morfológica revelou muitas surpresas. A primeira diz respeito aos dentes: os pré-molares do Homo luzonensis têm semelhanças com os dos Australopithecus (hominídeos africanos desaparecidos há 2 milhões de anos) e de outras espécies antigas do gênero Homo, como Homo habilis e Homo erectus.
Entre outros aspectos, esses dentes têm duas ou três raízes, enquanto os do Homo sapiens costumam ter uma, às vezes duas, apontam os pesquisadores.
Em contrapartida, os molares são muito pequenos e sua morfologia muito simples se assemelha à dos homens modernos.
"Um indivíduo com essas características combinadas não pode ser
classificado em nenhuma das espécies conhecidas hoje", observa Florent
Detroit.
Os ossos do pé também são muito surpreendentes: a falange proximal tem
uma curvatura muito pronunciada e inserções muito desenvolvidas para os
músculos assegurando a flexão do pé. Não se parece com uma falange do Homo sapiens, mas com a de um Australopithecus, um hominídeo provavelmente bipedal e arbóreo.
"Não estamos afirmando que o Homo luzonensis vivia
nas árvores, porque a evolução do gênero Homo mostra que este gênero é
caracterizado por um bipedismo severo desde 2 milhões de anos", ressalta
Florent Detroit.
O "reaparecimento" de características primitivas no Homo luzonensis pode ser explicado pelo endemismo insular, segundo ele.
Durante o período do Quaternário, a ilha de Luzon nunca esteve
acessível a pé. Se hominídios viveram lá, tiveram que encontrar um meio
de atravessar o mar.
Aos olhos do pesquisador, os resultados do estudo "mostram muito claramente que a evolução da espécie humana não é linear". "É mais complexa do que pensávamos até recentemente", explicou.
Esta é uma "descoberta notável" que "sem dúvida desencadeará muitos
debates científicos", disse Matthew Tocheri, da Universidade de
Lakehead, no Canadá, em um comentário publicado na "Nature".
Florent Detroit espera que alguns colegas "questionem a legitimidade de
descrever uma nova espécie a partir de uma pequena amostra de fósseis".
Mas, aos seus olhos, "não é grave criar uma nova espécie". Isso ajuda a
chamar a atenção para esses fósseis que parecem "diferentes".
"Se no futuro, os colegas mostrarem que estávamos errados e que esses vestígios correspondem a uma espécie que já conhecíamos, não tem problema, vamos esquecer isso".
Escavações nas Filipinas, onde foram encontrados fósseis do Homo
luzonensis — Foto: AFP PHOTO / FLORENT DETROIT / FLORENT DETROIT
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.