terça-feira, 3 de setembro de 2019

03 de setembro de 2019.

Quais são os principais tipos de solos no Brasil?


Na Pedologia, o solo é definido como uma “coleção de corpos naturais, constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do planeta, contêm matéria viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem sido modificados por interferências antrópicas” (EMBRAPA, 2013, p. 27).

A formação do solo ocorre a partir da alteração (intemperismo) do material de origem (rocha ou sedimento) causada pelos organismos e pelo clima, em um  determinado tempo e com o controle do relevo. Assim, os fatores de sua formação são: material de origem, clima, organismos, relevo e tempo que atuam de forma integrada e concomitante.

Principais horizontes e camadas dos solos

 Horizonte Hístico (H ou O) – é um horizonte de constituição orgânica, em que o teor de carbono orgânico deve ser ≥ 8%. O horizonte hístico pode ser formado em ambientes com excesso de água (encharcados), como várzeas, veredas, pântanos, mangues, etc. Nesse caso, ele é reconhecido como horizonte H. Já nos ambientes sem encharcamento, recebe a denominação de horizonte O. Geralmente são formados por vegetação florestal, onde o aporte de matéria orgânica é muito grande.

Horizonte A – é um horizonte de constituição mineral, cujas características (cor, estrutura e consistência) são associadas à presença de matéria orgânica decomposta, húmus.

Horizonte E – horizonte de constituição mineral, cujas características (como cor e textura, principalmente) indicam perda de argila ou húmus por transporte de material. A letra E está associada ao processo de eluviação (perda) que, quando é muito acentuada, deixa o horizonte E completamente branco (presença marcante de areia), recebendo a adjetivação de horizonte E álbico.

Horizonte B – horizonte de constituição mineral, cujas características (cor, textura, estrutura, etc.) refletem a atuação dos processos de formação do solo. Geralmente, o horizonte B já não apresenta características do material de origem, pois elas já foram alteradas pela pedogênese.

Horizonte ou camada C – é de constituição mineral, sendo considerado horizonte quando formado pela alteração do material de origem, ou seja, associado ao intemperismo da rocha (formação in situ) e, muitas vezes, ainda apresenta alguma característica desta.

Camada R – trata-se da rocha não alterada .
Figura 01: Principais horizontes e camadas dos solos.

Classes de solo no Brasil

Segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (2006),  no Brasil são reconhecidas 13 classes de solos ,   considerando apenas o primeiro nível categórico. A seguir será feita uma breve descrição dessas classes:

Neossolos
  •  São solos jovens, sem horizonte B, formados em ambiente sem excesso de água. Como são solos muito heterogêneos, estes podem ser divididos considerando o segundo nível categórico.
Neossolos Regolíticos
  • Sequência possível de horizontes: A/C/R, com espessura do A+C > 50 cm. São solos normalmente associados aos locais de relevo mais movimentado, onde a taxa de pedogênese é baixa, ou onde a erosão é acentuada (processo de rejuvenescimento do solo). • São solos altamente susceptíveis à erosão pela presença superficial do horizonte C. Ocorre pontualmente em todo o território brasileiro.
Neossolo Regolítico eutrófico. Fonte: Acervo da Embrapa Solos. Foto: Maria de Lourdes Mendonça Santos
 Neossolos Quartzarênicos
  • Sequência possível de horizontes: A/C/R, sendo que as texturas dos horizontes A e C devem ser arenosas, ou seja, ter % areia ≥ 70%. São solos associados a áreas de litologia de arenitos e quartzitos. Bastante comuns no semiárido, algumas áreas do sul e do cerrado brasileiro.
Figura:Perfil de NEOSSOLO QUARTZARENICO. Município de Brasilia de Minas – MG.
Neossolos Flúvicos
  • Solos formados por camadas de sedimentos aluviais (depositados pelos rios). Ocorrem em todo o Brasil na margem dos rios. São muito heterogêneos e difíceis de ser caracterizados com relação à fertilidade e textura, pois cada camada pode possui uma característica diferente.
Figura: Perfil de NEOSSOLO FLUVICO.
Neossolos Litólicos
  • Sequência possível de horizontes: A/R; A/C/R, sendo que, no segundo caso, a espessura do horizonte A somada com a do horizonte C deve ser ≤ 50 cm. Ocorrem pontualmente por todo o território nacional, tendendo a se concentrar em áreas de relevo bastante movimentado. A principal limitação a seu uso agrícola é sua pequena espessura. Suas características de fertilidade e textura estão diretamente relacionadas às características do material de origem.
Figura: Perfil de NEOSSOLO LITÓLICO cascalhento. Município de Alexânia– GO.
 Organossolos
  • Sequência possível de horizontes: O/A/B/C ou H/C. São solos que apresentam horizonte hístico (O ou H) com, no mínimo, 40 cm de espessura.
Perfil de ORGANOSSOLO no município de Catas Altas – MG.

Gleissolos
  • Possível sequência de horizontes: H/Cg (com H < 40 cm) ou A/C. São solos que ocorrem somente em áreas encharcadas.  O horizonte A é muito escuro e está sobre um horizonte C bem claro, com possível presença de mosqueados. O gleissolos são encontrados em áreas de várzeas, veredas, mangues, etc.
Perfil de GLEISSOLO no município de Uberlândia – MG.
Chernossolos
  • Sequência possível de horizontes: A/R; A/C/R e A/B/C/R. Solos pouco profundos com horizonte superficial A chernozêmico sobre horizonte B textural avermelhado, com argila de atividade e saturação por bases alta. Ocorrem em quase todas as regiões do Brasil, em pequenas extensões, geralmente associados às rochas pouco ácidas em climas com estação seca acentuada. A fertilidade é bastante elevada, logo, as condições para o enraizamento em profundidade são muito boas, principalmente se a profundidade do solo for adequada.
Perfil de CHERNOSSOLO no município de Italva – RJ.
 Vertissolos
  •   São solos ricos em argila do tipo 2:1, sendo comum na região nordeste do Brasil. Em época seca, eles se contraem e, em função da contração, ocorre a formação de fendilhamentos profundos e rachaduras,  na época úmida, se expandem.   Normalmente, o material da superfície cai nessas fendas, gerando uma contínua mistura dos constituintes dos horizontes do solo, o que dificulta a formação do horizonte B. Por isso, normalmente, não apresenta horizonte B, tendo como sequência mais típica Av/Cv (o v indica características vérticas – expansão e contração do solo). A maior parte destes solos é pouco espessa, tendo menos de 2 metros de profundidade.  Apresentam fertilidade alta, porém são difíceis de serem manejados. Quando seco, eles são extremamente duros e, quando úmidos, muito plásticos e pegajosos.
Perfil de VERTISSOLO no município de Floriano –PI.
Espodossolos
  •   Possível sequência de horizontes: A/E/Bh/C.  Os espodossolos ocorrem em solos arenosos, condição que favorece a movimentação de húmus (podzolização). No horizonte Bh apresenta coloração escura. No processo de podzolização, parte do húmus estaciona no horizonte B e parte atinge o nível freático, consequentemente influenciando a coloração dos rios da região, que fica escura. Em razão ao húmus na água e pelo seu pH reduzido, há floculação e sedimentação no leito do rio, fazendo com que quase não haja sedimentos.
Figura: ESPODOSSOLO Humilúvico hidromórfico. Fonte: Embrapa Solos. Foto: Maria de Lourdes Mendonça Santos
 Plintossolos
  • Possível sequência de horizontes: A/Bf/C.  O horizonte Bf é resultado de problemas de drenagem (com  encharcamentos temporários), favorecendo a concentração de ferro e a formação de plintitas. Esta dificuldade de drenagem é gerada pela mudança drástica de porosidade dentro do perfil do solo. Quando há endurecimento da plintita (petroplintitas), o solo é denominado de plintossolo pétrico.
Figura: Perfil de PLINTOSSOLO Pétrico, no município de Piracuruca – PI
Argissolos
  • Tem como processo específico de formação o transporte de argila.  Possível sequência de horizontes: A/E/Bt/C ou A/Bt/C.  São solos que ocorrem somente em áreas encharcadas.  A argila do Bt deve ser de baixa atividade (Tb).  Esta é a segunda classe de solos mais comum no país, após a classe dos latossolos. É comum encontrar argissolos associados aos latossolos nas mesmas áreas, sendo que os latossolos ocorrem em locais mais planos e os argissolos, nos mais movimentados. Os argissolos tendem a ser mais férteis que os latossolos, porém mais susceptíveis à erosão.
    Figura: Perfil de ARGISSOLO. Município de Brasilia de Minas – MG.
Nitossolos
  • Sofreram podzolização com movimentação de argila, porém nunca apresentam horizonte E. Possível sequência de horizontes: A/B nítico/C.  O horizonte B nítico apresenta cerosidade (moderada a forte) e está associado a materiais de origem com pouco silício, não formando gradiente textural. A argila do B nítico também deve ser de baixa atividade (Tb), ou seja, CTC argila < 24 cmolc/kg. Os nitossolos mais comuns no Brasil estão associados a basalto e predominam na região sul do Brasil, nas áreas onde ocorreu o derrame basáltico.
Figura: Perfil de NITOSSOLO, entre os municípios Guiricema e Miraí – MG
Luvissolos
  •  Sequência possível de horizontes: A/E/Bt/C; A/Bt/C.  A argila do Bt deve ser de alta atividade (Ta), ou seja, CTC argila ≥ 24cmolc/kg, conjugada com V% maior ou igual a 50%.  Ocupam 15% da área do semiárido, predominando na região mais seca, o sertão.  Este tipo de solos está associado a ambiente pouco lixiviado, e são solos extremamente férteis, porém rasos, raramente ultrapassando 2 m.  Apresentam rochosidades (presença de restos da rocha de origem) misturadas no solo e na superfície.  Normalmente, apresentam horizonte A fraco, pois o clima da região dificulta a produção de matéria orgânica.
Figura: Perfil de LUVISSOLO, com Horizonte B argila de alta atividade. Município de Viçosa – MG.

Planossolos
  • Formado por podzolização de argila, com transição abrupta do horizonte E para o B. É comum a ocorrência de mudança textural abrupta, gerando impermeabilização natural, o que pode acarretar a formação de um nível freático temporário suspenso no período chuvoso. Normalmente, há mosqueados no topo do B plânico. Possível sequência de horizontes: A/E/Bplânico/C.
Figura: Perfil de PLANOSSOLO , no município de Salinas – MG.
Cambissolos
  • Possível sequência de horizontes A/Bi/C. Não existe processo de formação ou característica definida para este tipo de solo. Está associado a áreas de relevo movimentado e, que normalmente é muito suscetível à erosão.

Figura: Perfil de CAMBISSOLO, com horizonte B incipiente, no município de Mariana – MG.
Latossolos
  •  Os latossolos representam cerca de 50% dos solos do Brasil. Constituem solos com horizonte B latossólico e são, sob o ponto de vista pedogenético, os solos mais desenvolvidos da crosta terrestre. Possuem perfil muito profundo apresentando sequência de horizonte, A, B e C, com predominância de transições difusas e graduais entre os sub-horizontes. A profundidade do solum (horizonte A + B) normalmente é superior a dois metros.
Figura: Perfil de LATOSSOLO VERMELHO, com exposição do Horizonte B muito profundo. Município de Igarapava – SP

Nesse texto abordamos os principais tipos de solos ocorrentes no Brasil  considerando somente o 1° nivel categórico de classificação.

 Referencias Bibliográficas

AGENCIA EMBRAPA DE TECNOLOGIA. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br. Acesso em junho de 2018.

EMBRAPA. Disponível em: https://www.embrapa.br/solos/sibcs/classificacao-de-solos/ordens:  Acesso em junho de 2018.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 3ª edição. Rio de Janeiro, 2013.

SANTOS, R.D.; LEMOS, R.C.; SANTOS, H.G. dos; KER, J.C.; ANJOS, L.H.C. dos. Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo. SBCS/CNPS – EMBRAPA. 6ª edição. Viçosa, 2013.

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