segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Ostra exótica pode causar riscos para áreas do litoral paulista

Unesp Registro faz levantamento de dados biométricos para propor estratégias de controle

22/09/2019 por: Jorge Marinho
A ostra exótica Saccostrea (acima) da região indo-pacífico e a ostra nativa Cassostera (abaixo) encontradas em Cananeia/SP.
 
Imagem: Divulgação Unesp Registro
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A ostra Saccostrea, espécie de ostra de rocha encontrada principalmente na área oceânica conhecida como indo-pacífico, que é a região geográfica que compreende o Oceano Índico e a porção ocidental e tropical do Oceano Pacífico, foi encontrada na região de Cananéia/SP, onde ficam as áreas das Reservas Extrativista do Taquari e de Desenvolvimento Sustentável de Itapinhapima, há dois anos, segundo a Marília Cunha Lignon, professora do curso de Engenharia de Pesca do Câmpus Experimental da Unesp, em Registro/SP.

A região é reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em função da alta diversidade biológica, além de ter o reconhecimento também da Convenção Internacional das Zonas Úmidas e ser parte do Mosaico de Áreas Protegidas do Lagamar.
“A ostra Saccostrea começou a aparecer em pequenas quantidades, em 2017, mas agora está se espalhando muito rápido porque se reproduz por larva. Então, são milhares de larvas lançadas no estuário de Cananéia/SP, a cada fase de reprodução da espécie. Controlar essa expansão é bastante complicado”, analisa a pesquisadora que informa ainda que não se sabe quais são as ameaças, tanto biológicas quanto de biodiversidade, que essa espécie exótica de ostra pode trazer para a região.
03-ostras-exoticas.jpg“Não conseguimos ainda avaliar se ela pode colocar em risco as espécies nativas, por isso, é muito importante avançarmos nos estudos para conhecermos um pouco mais sobre a Saccostrea porque a presença dela na região está aumentando. Em julho desse ano, quando fizemos o monitoramento das parcelas permanentes em mangue, observamos que estava muito espalhada nas áreas. Não podemos perder mais tempo! Precisamos conhecer melhor a espécie e como é o comportamento dela em nossa zona costeira”, destaca Marília Cunha Lignon.

O mapeamento da ocorrência dessa ostra exótica tem sido feito por meio de visitas às áreas e entrevistando gestores de unidades de conservação, pescadores tradicionais, monitores ambientais que estão freqüentemente em contato com os manguezais e costões rochosos.

A última atividade dessa pesquisa, realizada durante "Semana de Conservação dos Manguezais" de Cananéia/SP, envolveu os alunos do curso de graduação em Engenharia de Pesca da Unesp, campus Registro, matriculados na disciplina optativa "Ecossistema Manguezal e seus Recursos Naturais", sob responsabilidade da professora Marília, a Fundação Florestal, gestores das unidades de conservação, biólogos do município e pescadores tradicionais que coletaram 50 quilos de ostras Saccostrea. Cada indivíduo recolhido terá sua largura, comprimento e altura medidos pelos estudantes da disciplina optativa da professora Marília.
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“O objetivo é conhecer a espécie e a dinâmica dela no ambiente. Um conhecimento que será compartilhado com a Fundação Florestal e com os gestores das unidades de conservação para que seja possível pensarmos juntos estratégias de manejo e controle da espécie porque essa ostra pode competir com a nativa Cassostrea, já que se fixa na raiz do mangue vermelho, o lugar de desenvolvimento da ostra local”, explica Marília Cunha Lignon, que também diz que serão realizados trabalhos para apresentação em congressos científicos.

"Eu acho fundamental colocar o aluno de graduação de Engenharia de Pesca em contato com os pescadores locais porque se valoriza o trabalho e o conhecimento prático que os pescadores têm do ambiente. O contato dos alunos com as equipes de gestão das unidades de conservação costeira também faz com que percebam na prática a importância do apoio de engenheiros de pesca para auxiliar no manejo de espécies costeiras. Quando tiramos o aluno de sala de aula, das questões mais teóricas, e o levamos para a prática, ele aprende muito mais rapidamente e de forma muito mais estimulante”, conclui a pesquisadora.

“O trabalho de equipe, entre a Unesp, a Fundação Florestal, a Prefeitura de Cananéia e monitores ambientais, na ação contra ostra exótica só confirma a preocupação de todos com o bom funcionamento do ecossistema manguezal. Cada aluno que participou da atividade pôde observar as características dessa espécie exótica e os efeitos dela dentro do estuário que serve berçário e abrigo para milhares de espécies”, conta Wanilton Polachini Batista, aluno de Engenharia de Pesca da Unesp, câmpus Registro.

“Foi uma experiência muito importante porque pude conhecer as pessoas da comunidade local que extraem ostra, a equipe da Fundação Florestal. Também pude saber essa ostra exótica está ocupando um habitat diferente do original dela e quais os efeitos em nosso ambiente costeiro. Quanto mais conhecimento o aluno de Engenharia de Pesca tiver sobre os vários ambientes aquáticos (água doce, estuarino e marinho), melhor será a nossa formação profissional”, revela Lucca Stocco, discente de Engenharia de Pesca da Unesp, câmpus Registro.

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