O extraordinário fóssil do Peru que mostra como baleias de 4 patas chegaram à América do Sul
Alejandra MartinsBBC News Mundo
Há 9 horas
Direito de imagemAlberto GennariImage captionO fóssil encontrado no Peru é o único de uma baleia quadrúpede descoberta na América do Sul até o momento.
O Museu de
História Natural de Lima abriga os restos de uma rara criatura que viveu
há 42 milhões de anos, quando o mundo era bem diferente do que é hoje.
O
esqueleto de uma baleia anfíbia descoberto em 2011 na costa sul do Peru
pelo paleontólogo Mario Urbina, do Museu de História Natural de Lima,
não foi exibido ao público porque as pesquisas sobre ele ainda não foram
concluídas.
A espécie foi batizada de Peregocetus pacificus, um termo que vem do latim pereger (viajante) e cetus (baleia).
"Este fóssil é o único remanescente de uma baleia quadrúpede
descoberto na América do Sul até o momento", disse à BBC Mundo Rodolfo
Salas-Gismondi, do Departamento de Paleontologia de Vertebrados do Museu
de História Natural de Lima.
O fóssil de baleia também é "o
primeiro esqueleto bem preservado de um cetáceo quadrúpede de toda a
região do Pacífico", disse Olivier Lambert, pesquisador do Instituto
Real Belga de Ciências Naturais que liderou os estudos e que
recentemente apresentou as descobertas da equipe na reunião da Sociedade
de Paleontologia de Vertebrados, na Austrália. Pergocetus pacificus
é extraordinário também por ajudar os cientistas a entender como as
baleias evoluíram desde suas origens na Ásia, há mais de 50 milhões de
anos.
Onde o fóssil foi encontrado e por que está tão bem preservado?
O
esqueleto está bastante completo, com as duas mandíbulas, grande parte
da coluna vertebral, incluindo a cauda, numerosas costelas, a pelve e
as pernas da frente e de trás.
O fóssil foi encontrado nas rochas de Yumaque, na área desértica em frente à praia Media Luna, na costa sul do Peru.
Direito de imagemGentileza Olivier LambertImage caption
O fóssil foi encontrado nas rochas de Yumaque, na
área desértica em frente à Praia Media Luna, na costa sul do Peru.
"Naquela época, as condições existentes eram
favoráveis ao enterro e subsequente fossilização dos restos
esqueléticos dos animais que ali viviam, seja porque os corpos foram
enterrados rapidamente ou porque a decomposição e desmembramento dos
corpos ocorreu lentamente", explicou Salas-Gismondi.
"Para que
esses fenômenos acontecessem, poder ter ocorrido algum fenômeno de
tixotropia (fenômeno que produz areia movediça) ou talvez fossem
ambientes com pouco oxigênio, o que pode ter sido essencial para atrasar
a decomposição das partes moles dos cadáveres."
O paleontólogo
disse que depois que os restos foram enterrados e fossilizados, e que os
sedimentos que cobriam os restos se tornaram estratos ou camadas de
rochas sedimentares, toda essa área subaquática teve que emergir.
Os
movimentos tectônicos ligados ao nascimento dos Andes elevaram os
estratos rochosos por vários metros até a superfície do deserto, que
agora é um dos locais mais importantes do mundo para estudar a evolução
dos ecossistemas marinhos e sua diversidade.
O que o fóssil revela sobre a evolução das baleias?
"Os
fósseis mais antigos de cetáceos são da Índia e do Paquistão, não
tiveram muitas adaptações ao ambiente aquático e eram relativamente
pequenos, do tamanho de um cachorro", disse Lambert à BBC Mundo.
Algumas linhagens desses primeiros cetáceos se adaptaram à vida na água, mas mantiveram os membros e começaram a se dispersar.
Primeiro
eles migraram para o oeste e alcançaram as costas do norte e leste da
África. E de lá, atravessaram o Atlântico para chegar ao continente
americano, explicou o cientista belga.
Direito de imagemGentileza Olivier LambertImage caption
O esqueleto está bastante completo, com as duas
mandíbulas, grande parte da coluna vertebral, incluindo a cauda,
numerosas costelas, a pelve e as pernas da frente e de trás.
"Durante muito tempo, não tínhamos pistas sobre o
caminho que seguiram, mas o fóssil do Peru indica que as baleias
quadrúpedes cruzaram o Atlântico Sul da África para a América do Sul
antes de migrar para o norte".
Salas-Gismondi explicou que "não se sabia que esses tipos de cetáceos arcaicos haviam chegado à costa da América do Sul".
O
cientista peruano explicou que , há 42 milhões de anos, a América do
Sul era um continente-ilha, sem conexões terrestres com nenhum outro
continente, e a única forma de chegar a ele era através do oceano.
"É
surpreendente que um cetáceo arcaico, capaz de nadar, mas ainda não
completamente separado da vida em áreas terrestres e costeiras, tenha
atravessado grandes distâncias no oceano".
Como eram os ancestrais das baleias?
"Os
cetáceos têm um ancestral totalmente terrestre, de um grupo extinto de
mamíferos com pernas entre os artiodáctilos, o grupo que agora inclui
hipopótamos, veados, vacas e lhamas", explicou Lambert.
A conservação das patas traseiras permitiu que os cetáceos antigos retornassem à terra para descansar e dar à luz.
Direito de imagemAlberto GennariImage caption
O fóssil do Peru indica que as baleias de quatro patas cruzaram o Atlântico Sul, da África à América do Sul
Algumas baleias começaram a usar predominantemente a
cauda para nadar, e as patas podem ter se tornado um obstáculo para
movimentos mais eficientes, segundo o cientista.
As patas da
frente gradualmente se transformaram nas barbatanas, usadas para
determinar a direção do nado. "Nesse ponto, os cetáceos não podiam mais
voltar à terra e precisavam dar à luz na água."
Quais outras perguntas os cientistas querem responder?
"Uma investigação completa da anatomia funcional do Peregocetus
começará nos próximos meses", disse Salas-Gismondi. "Cada osso do
esqueleto pós-craniano será estudado em detalhes para entender como se
movia, como usava as pernas durante a natação ou, eventualmente, quando
estava em terra."
"Já podemos mostrar que o Perregocetus
tinha uma pelve e as patas traseiras fortes o suficiente para suportar
seu próprio peso no chão. Agora queremos ir além e entender que tipo de
locomoção usava — e comparar com mamíferos semiaquáticos modernos, como
lontras, para testar diferentes hipóteses sobre o uso da cauda durante a
natação."
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