As camadas de uma paisagem
As paisagens apresentam grande variedade ao longo da superfície terrestre, o que ocorre em função de diversos fatores de diferenciação (clima, tectônica, relevo etc.). Elas também variam ao longo do tempo.
Veja a
seguir o exemplo da Fig. 1.2. Podemos ver a paisagem dissecada da borda
da bacia sedimentar do Jatobá, que levou milhões de anos para ser
esculpida. O arenito que dá estrutura a ela recobria grande parte do
Nordeste brasileiro e foi muito erodido após a abertura do Oceano
Atlântico.
Essa área
se manteve relativamente preservada da longa erosão por estar, em parte,
aprisionada numa estrutura tectônica de afundamento denominada
aulacógeno, que se formou durante o processo de separação continental e
abertura oceânica.
Além dos
testemunhos sedimentares, a paisagem da Fig. 1 ainda se insere no
contexto climático quente e semiárido que condiciona a formação de um
relevo aplainado com encostas côncavas (com pouco sedimento acumulado),
geralmente apresentando escarpas.
Esse
ambiente, estruturado sobre um arenito, origina solos arenosos profundos
que, combinando-se com o clima, provocam grande estresse hídrico sobre a
vegetação, favorecendo espécies xerófilas com diversas estratégias de
armazenamento de água.
A beleza
cênica do lugar ainda teve influência na criação de uma sociedade
teocrática alternativa, organizada por um líder espiritual que ficou
conhecido localmente como Meu Rei. Foi ainda essa beleza estética,
aliada a seus aspectos florísticos e arqueológicos, que levou o governo
brasileiro a criar, como forma de preservar a área, o Parque Nacional do
Catimbau (PE).
Independentemente
de se tratar de paisagem ou paleopaisagem, o que se pode apreender é
que essas unidades geoecológicas e culturais são formadas por três
camadas (Fig. 2): uma física, outra biológica e uma terceira de ordem
cultural/social.
- A camada física pode ser chamada de potencial natural e inclui o conjunto da estrutura e trajetória dos processos tectônicos e climáticos e a influência destes sobre a diversidade das formas de relevo e os regimes de drenagem superficial e subterrânea.
- A segunda camada é constituída pela atividade biológica que se desenvolve sobre um potencial natural. Esse potencial vai condicionar ou limitar a história biogeográfica, bem como o arranjo ecológico da fauna e da flora e o produto de sua interação com o substrato na formação dos solos.
- Por último, a apropriação cultural inclui a história humana, enquanto história de suas representações sociais, interesses políticos, demandas econômicas e sua intervenção a partir de obras de engenharia e atividades diversas.
Logo, o
estudo da paisagem demanda o reconhecimento de seu potencial natural, de
sua atividade biológica e também de sua apropriação cultural. Para a
cartografia de paisagens, contudo, interessa primariamente a fisionomia
das camadas, isto é, seu aspecto visível, e secundariamente seu
funcionamento e desenvolvimento.
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