Tipos de Metamorfismo
O metamorfismo pode ser classificado de acordo com o agente ou os agentes principais de metamorfismo, área de abrangência e ambiente geotectônico, surgindo as seguintes denominações: dinamotermal, regional ou orogenético; termal, de contato ou local; dinâmico ou cataclástico; burial, de carga ou de soterramento; hidrotermal; de fundo oceânico; e de impacto.
Metamorfismo Regional, Dinamotermal ou Orogenético
É caracterizado pela atuação equilibrada da temperatura, pressão litostática, pressão dirigida e tempo, daí a razão do termo dinamotermal. Pelo fato de atingir grandes áreas recebe a denominação de regional, e pelo fato de estar ligado a colisões de placas e formação de cadeias de montanha, também é chamado orogenético.
O aquecimento não é devido à colocação de corpos magmáticos, embora
estes possam estar presentes, contribuindo para a elevação da
temperatura. Este tipo de metamorfismo sempre é acompanhado por
deformação e dobramento, uma vez que se associa ao encontro de placas
(colisões) que geram cadeias de montanhas. Desta forma, normalmente as
rochas geradas possuem orientação planar (fabric planar
representado por xistosidade ou clivagem) ou linear (lineação de
estiramento, mineral ou de intersecção).De acordo com o ambiente
tectônico (zona de subducção, região de arco magmático, região entre um
arco magmático e uma zona de subducção, região entre o arco magmático e o
continente ou de bacia back arc), ocorrem diferentes tipos de
metamorfismo, sendo o de maior pressão na zona de subducção e o de menor
regime bárico (maior grau geotérmico) na região do arco magmático e da
bacia back arc. Desta forma, são gerados os cinturões
metamórficos de alta e baixa pressão e os diferentes tipos báricos de
metamorfismo, dando origem ao conceito de séries faciais.
Metamorfismo Burial, de Carga ou Soterramento
Constitui uma forma de metamorfismo regional que aparece quando
sequências sedimentares ou vulcanos-sedimentares atingem grandes
espessuras. Com a subsidência da bacia, geram-se condições, na base da
sequência, para o aparecimento de temperatura e pressão suficientes para
a geração de metamorfismo de baixo grau, mesmo sem a atuação de
deformação e dobramentos típicos do metamorfismo regional. A elevação do
grau geotérmico, um dos fatores de metamorfismo nestas bacias, pode ser
acentuada com a colocação de corpos magmáticos intrusivos. O produto
deste metamorfismo são rochas com estruturas planares ou não,
normalmente sem lineação presente, a não ser a orientação de clastos
pela ação dos agentes de transporte sedimentar. As estruturas planares
resultam da compactação do material e pode ser consideravelmente
acentuada pelo crescimento mimético dos filossilicatos durante o
metamorfismo.
Metamorfismo Termal, de Contato ou Local
É caracterizado pelo predomínio do agente de metamorfismo
temperatura, causado pela colocação de um corpo magmático (temperaturas
superiores a 700ºC) em ambientes relativamente rasos com temperaturas
bem mais baixas que as do corpo magmático, resultando no aquecimento
zonal ao redor da intrusão. Este tipo, por formar uma auréola ao redor
do contato do corpo intrusivo, recebe a denominação “metamorfismo de
contato”, e por atingir pequenas áreas (de decímetros a alguns
quilômetros) recebe a denominação de local.Quando ocorrem muitas
intrusões, por exemplo em regiões de arco magmático ou bacias back arc,
fazendo com que o efeito de uma auréola se confunda com a outra e que o
grau geotérmico da região se eleve anormalmente, com a área aquecida
pelas intrusões atingindo dimensões quilométricas, o metamorfismo pode
ser denominado de termal regional ou de contato regional. As auréolas de
metamorfismo de contato típico não apresentam deformação durante a
geração de novas fases cristalinas, recristalização ou crescimento dos
minerais durante a ação termal (metamorfismo) para a formação das rochas
típicas, denominadas de hornfels, Buchitos e escarnitos.
Contudo, estas rochas podem reter, e até mesmo realçar, por mimetismo,
os vestígios de estruturas planares pretéritas. Estas estruturas podem
ser aquelas geradas pelo processo sedimentar ou, principalmente, nos
estágios iniciais do metamorfismo regional, uma vez que o corpo
magmático responsável pelo metamorfismo de contato pode resultar do
mesmo evento tectono-metamórfico, por fusão em regiões mais profundas,
raiz da cadeia de montanha ou zona de subducção. Desta forma, se a
colocação do corpo magmático ocorreu de forma sin-cinemática, o hornfels
poderá também apresentar deformação similares ao que está ocorrendo na
região, na época da colocação do corpo intrusivo.
Os produtos de
metamorfismo de contato são bastante variados, os mais comuns aparecem
ao redor de plútons de composição granítica colocados na crosta
intermediária e superior, sendo que nas regiões mais profundas formam
auréolas mais espessas, podendo atingir alguns quilômetros de espessura.
As auréolas associadas aos corpos mais raros são pouco expressivas,
podendo não atingir mais que alguns metros, uma vez que estas apenas são
geradas se não houver condições dos fluidos se movimentarem com
facilidade (maciços porosos normalmente não apresentam metamorfismo de
contato). Rochas vulcânicas e hipoabissais de colocação rasa apenas
geram efeito de contato quando englobam as encaixantes, ou quando as
encaixante são relativamente impermeáveis (argilitos, lamitos,
folhelhos, calcários, etc.), e este raramente ultrapassa uma dezena de
metros.Uma das características deste tipo de metamorfismo é sua zonação
concêntrica ao redor do corpo intrusivo, que pode ser bastante
irregular, na dependência dos tipos petrográficos (refratariedade,
porosidade e reatividade) e estruturação dos mesmos (fraturamento,
estratificação, xistosidade, etc.).
Metamorfismo Dinâmico ou Cataclástico
Este tipo de metamorfismo é usualmente de ocorrência mais local que o
metamorfismo de contato, e ocorre ao longo de planos de falhas ou zonas
de cisalhamento, como resultado da intensa deformação das rochas
dispostas na zona de movimento. Nessas zonas, quando muito próximo da
superfície, ocorre apenas brechação, fragmentação e, às vezes, a geração
de fusão local resultante de intenso calor gerado pelo atrito e
rapidíssimo resfriamento (pseudotaquilito), podendo ainda pela ascensão
de fluidos quentes (hidrotermais) gerar silicificação ou argilização. Em
locais mais profundos, com temperaturas confinantes e pressões
compatíveis com ambientes metamórficos ocorrem, em associação com o
ativo mecanismo de cominuição, os processos de recristalização e de
neomineralização de fases hidratadas ou não, catalisadas, além da
temperatura e pressão, pela passagem de fluidos pela zona de deformação e
pela deformação do retículo dos minerais.
Este tipo de metamorfismo não
é responsável pela geração de minerais típicos, como colocado no
passado por vários pesquisadores. Se aparecem minerais diferentes dos
encontrados fora da zona deformada, estes resultam de modificações
químicas geradas pela passagem de fluidos e/ou pelo fato de apenas nesta
zona ter ocorrido catalisadores (deformação e/ou fluidos) para a
geração das novas fases minerais.Como produtos típicos desse tipo de
metamorfismo têm-se: cataclasitos, utracataclasitos, milonitos,
ultramilonitos, filonitos e blastomilonitos.
Os dois primeiros não são
foliados e se diferem do segundo pelo grau maior de moagem. Os outros
tipos são foliados, os dois primeiros caracterizados pela granulação
fina e cominuição mais efetiva no ultramilonito; o filonito é
caracterizado pela intensa neomineralização de filossilicatos finos,
gerando aspecto de filito, daí o nome; e o último por apresentar
granulação maior em função de maior crescimento do produto da
cominuição, em função da maior profundidade (condições de metamorfismo
compatíveis com xisto verde alto a granulito).
Metamorfismo Hidrotermal
Este tipo de metamorfismo, também de ocorrência localizada, envolve
mudanças químicas (metassomatismo) que, normalmente, são possibilitadas
pela circulação de água quente através do maciço por fissuras ou
fraturas. Este tipo de metamorfismo está frequentemente, associado com
atividades ígneas, pelo fato destas gerarem gradiente de temperatura e,
às vezes, também deformação, para o movimento de convecção dos fluídos.
Todavia, cabe ressaltar que apenas o grau geotérmico, associado com
deformação (falhas, zonas de falhas ou de cisalhamento direcional ou
tangencial, ou mesmo fraturas) pode propiciar e direcionar a circulação
de fluidos aquosos quentes. Este é um importante processo no campo
geotérmico e é responsável pela formação de muitos depósitos de
importância econômica, tal como os de cobre porfirítico, entre muitos
outros. Este tipo de metamorfismo também é de fundamental importância na
crosta oceânica, em especial na cadeia meso-oceânica.
Metamorfismo de Fundo Oceânico
Este tipo ocorre principalmente ao longo da dorsal meso-oceânica, das
zonas de falhas transformantes e outras descontinuidades existentes no
substrato oceânico. Nas porções basais da placa oceânica, no contato com
o manto, devem ocorrer reações em estado sólido, em condições de
temperatura alta (superior a 700ºC), possivelmente com pressão de
fluidos (compostos basicamente por CO2) e deformação
resultante de movimentos relativos entre manto e crosta. Este ambiente
pode propiciar recristalização, reequilíbrio e crescimento dos minerais,
especialmente de piroxênios e olivina, que aparentam ser a fase
dominante neste nível da crosta oceânica e topo do manto. Na dorsal
meso-oceânica ocorre metamorfismo de contato pela colocação de magma
básico a intermediário; hidrotermalismo e transformações metassomáticas
associadas à desgaseificação das rochas intrusivas e do manto; bem como a
circulação de fluidos envolvendo água oceânica, através das fraturas
distensivas, características desse domínio. Esses processos nas porções
mais superficiais geram serpentinização e espilitização, e nas porções
mais profundas geram anfibólios e filossilicatos às custas de olivina,
piroxênios e plagioclásio. Nas falhas transformantes, um dos fatores de
importância no metamorfismo é a pressão dirigida, responsável pela
cominuição, estruturação (foliação milonítica e bandamento) e catálise
de reações juntamente com a temperatura, pressão de fluidos e pressão
litostática. Nessas porções pode ocorrer a formação de milonitos à base
de olivina e piroxênio, anfibólios xistos ou milonitos à base de
anfibólio de alta temperatura, e formação de serpentinitos foliados ou
não.
Metamorfismo de Impacto
Este tipo não apresenta relação com os outros tipos e é produzido
pelo impacto de meteoritos de grande porte, com velocidades altas, na
superfície dos planetas. Em alguns corpos (planetas e satélites) do
sistema solar, a exemplo de Mercúrio e da Lua, o metamorfismo de impacto
talvez seja o principal processo metamórfico, porém em nosso planeta é
de ocorrência muito restrita, pelo menos nos dias atuais. Pode ter tido
grande importância no Arqueano, embora a preservação de registros ou
evidências desse tipo de metamorfismo nesta época é extremamente rara,
em função dos diferentes ciclos geotectônicos superpostos e da erosão.
Metamorfismo e a tectônica de placas
Quanto à tectônica de placas, o metamorfismo pode ser subdividido em:- Metamorfismo no interior de placa: contato, burial ou carga, impacto, e possivelmente metamorfismo regional de fácies granulito na base da crosta (crosta inferior), catalisado pelo stress decorrente de convecção do manto e movimento da placa;
- Metamorfismo nas margens de placas divergentes: regional de fundo oceânico, contato e hidrotermal;
- Metamorfismo em margens transformantes: metamorfismo dinâmico ou cataclástico, hidrotermal e às vezes também de contato;
- Metamorfismo em margens convergentes: orogenético de alta a baixa pressão (cinturões pares), contato, contato regional na região de arco vulcânico continental, dinâmico e hidrotermal.
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