Pesquisadores brasileiros e belgas
descobriram cinco genes que, ao serem permanentemente ativados em
variedades transgênicas, tornam a planta mais tolerante ao estresse
hídrico (foto:Leo Ramos Chaves)
Genes que tornam a cana mais resistente à seca são identificados
10 de outubro de 2018
Elton Alisson, de Bruxelas (Bélgica) | Agência FAPESP
– A falta de disponibilidade de água durante o desenvolvimento da cana é
um dos tipos de estresse ambiental que causam maiores efeitos negativos
na planta. A fim de torná-la mais resistente, pesquisadores de
diferentes instituições no Brasil buscam desenvolver variedades de cana
mais bem adaptadas a condições de seca.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Biologia da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com colegas do Vlaams
Instituut voor Biotechnologie (VIB), da Bélgica, liderado pelo
pesquisador Dirk Inzé, identificaram um conjunto de cinco genes que, ao
serem permanentemente ativados, podem tornar a cana mais tolerante à
seca.
Os resultados do estudo, feito com apoio da FAPESP, no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), foram apresentados em uma palestra na segunda-feira (08/10), na FAPESP Week Belgium.
O encontro, que está sendo realizado em Bruxelas até dia 09 de outubro,
e em Liège e Leuven, no dia10, reúne pesquisadores brasileiros e belgas
com o objetivo de estreitar parcerias em pesquisa.
“Submetemos a patente desses genes no mês passado. Queremos, agora,
analisá-los em plantas transgênicas de cana e, posteriormente,
licenciá-los para empresas interessadas”, disse Marcelo Menossi
Teixeira, professor do IB-Unicamp e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
A pesquisa começou em 2007. Naquele ano, um grupo de pesquisadores do
Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), coordenado
pela professora Gláucia Mendes Souza, iniciou um estudo com o intuito de
analisar genes expressos em uma variedade de cana plantada em Alagoas
em condições de seca. O experimento foi conduzido pela equipe do
professor Laurício Endres, da Universidade Federal de Alagoas.
As análises de expressão gênica revelaram centenas de genes
diferentemente expressos na cana em resposta ao estresse hídrico. Ao
caracterizá-los, os pesquisadores identificaram alguns genes que eram
mais ativados.
Seriam necessários vários anos para confirmar o papel dos genes
candidatos em variedades transgênicas de cana em campo, mas os
pesquisadores tiveram a ideia de testar alguns dos genes em tabaco,
também plantado sob condições de seca: a planta leva apenas entre sete e
oito meses para crescer e é mais fácil de manipular, em comparação com a
cana, explicou Menossi.
Por meio da parceria com os colegas belgas, os pesquisadores brasileiros também testaram os genes em mostarda selvagem (Arabidopsis thaliana), muito usada como planta-modelo em estudos de genética.
As análises das plantas transgênicas cultivadas com os genes
superexpressos confirmaram que eles conferiam maior resistência ao
estresse oxidativo e à seca.
“Constatamos que esses cinco genes são ativados pela cana quando a
planta se encontra em condição de estresse hídrico a fim de protegê-la
da situação de seca”, afirmou Menossi.
“Nossa ideia é fazer modificações genéticas na planta para tornar
esses genes permanentemente ativados e, dessa forma, deixar a planta
preparada para uma situação de seca de modo que apresente desempenho
melhor sob essa condição”, explicou.
Em testes em laboratório, os pesquisadores já confirmaram que variedades transgênicas de cana com alguns desses genes em constante estado de ativação apresentaram maior tolerância à seca.
“Nosso objetivo é chegar a uma cana-de-açúcar transgênica capaz de suportar longos períodos sem irrigação e de crescimento rápido”, disse Menossi.
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