Moa extinguiu-se em 160 anos
Os moas desapareceram da Terra mais cedo que se
pensava - em pouco mais um século e meio, os primeiros habitantes da
Nova Zelândia, onde esta ave corredora viveu, caçaram-na até à extinção.
No último número da revista "Science" explica-se porque foi tudo tão
rápido.
A presença humana contribuiu, em apenas 160
anos, para a extinção do moa, uma ave corredora muito semelhante à
avestruz, que existiu na Nova Zelândia. Segundo um estudo publicado na
última edição da revista "Science", trata-se da "mais rápida extinção
até hoje registada de um animal de grande porte".Como é que algumas
centenas de colonizadores conseguiram exterminar 158 mil moas em tão
poucas décadas? Jared Diamond, da Universidade da Califórnia (EUA),
explica isso mesmo, num comentário que acompanha o estudo publicado na
"Science": "Os animais que nunca tiveram contacto com humanos não
tiveram a oportunidade de desenvolver medo de nós, por isso os nossos
antepassados chegavam facilmente junto deles e matavam-nos". Outra
resposta foi encontrada no próprio ciclo de vida do moa. Estas grandes
aves insulares só podiam reproduzir-se a partir dos 12 anos de idade, o
que torna difícil a manutenção da espécie mesmo quando poucos indivíduos
adultos são mortos.
A consanguinidade, resultante de populações
pequenas e do acasalamento entre indivíduos com elevado grau de
parentesco, conduz também à extinção das espécies, pois diminui a
diversidade genética. Richard Holdaway e Christopher Jacomb, os dois
cientistas neo-zelandeses responsáveis pela investigação, do Museu
Canterbury, em Christchurch, provaram que a chegada dos seres humanos às
ilhas foi determinante para calcular o tempo necessário para a extinção
do moa e qualquer estimativa aponta para o desaparecimento da ave em
menos de 160 anos.
Trabalhos anteriores apontavam para que o moa se
teria extinguido ao longo de mil anos. No início, por influência dos
Maori, os habitantes indígenas da Nova Zelândia, originários da
Polinésia, que tinham nesta grande ave uma importante fonte de alimento e
ornamento. Mais tarde, foi sendo exterminado graças à colonização
europeia, que depressa modificou o ecossistema de diversos locais
desabitados. As alterações climáticas também chegaram a ser apontadas
pelos cientistas como uma das causas para o desaparecimento do moa. Mas o
estudo publicado no último número da revista "Science" vem demonstrar
que o moa desapareceu assim que os primeiros Maori pisaram as areias das
ilhas da Nova Zelândia, no final do século XIII. Porque foi exactamente
nos primeiros locais onde habitaram os indígenas polinésios que foram
encontradas pilhas de ossos de moa. "Qualquer ocupação que fosse
superior a cinco anos seria detectada, quer pelos restos arqueológicos,
quer pela degradação que provocava no ambiente", explica o estudo, o que
também vem confirmar que os Maori acabavam por permanecer pouco tempo
no mesmo local.
Através da análise dos restos arqueológicos dos
esqueletos deixados nos terrenos, os cientistas descobriram que as
espécies de moa com maior porte desapareceram em apenas uma ou duas
décadas e o local onde elas existiram foi abandonado pelos Maori quando
já não havia mais nada para comer. "Os primeiros sítios que os Maori
habitaram contêm milhares de restos desmembrados de moas de todas as
espécies, enquanto os últimos locais por onde estes homens passaram não
revelaram qualquer vestígio de moas", assinalou Jared Diamond. O moa era
uma enorme ave corredora da Nova Zelândia, desprovida de voo (as
espécies maiores nem asas possuíam), e bastante parecida com a avestruz.
Entre as 11 espécies de moa, a dimensão dos indivíduos oscilava entre a
de um peru e a de uma avestruz. Algumas chegavam a atingir três metros
de altura e 230 quilos de peso.
O estudo dos esqueletos e restos
fossilizados revelou que a alimentação do moa consistia em ervas,
folhas, grainhas, sementes e frutas. A digestão era ajudada pela
ingestão de cerca de três quilos de pedras, que ficavam alojadas na
moela. E os seus enormes ovos, alguns com 18 centímetros de diâmetro e
25 de comprimento, permaneciam num buraco no chão.
Os fósseis de moas
foram encontrados principalmente em pantânos, leitos de rios e grutas
secas. Sabe-se agora que a extinção da ave é atribuída, de facto, aos
Maori, os primeiros polinésios a chegar à Nova Zelândia. A palavra "moa"
era, aliás, o termo polinésio para designar as aves em geral. Em
português, a palavra faz surgir algumas dúvidas gramaticais: a maior
parte das pessoas considera-a um substantivo feminino e diz "a moa", mas
a verdade é que os dicionários a definem como um substantivo masculino -
"o moa".Os antepassados do moa e o modo como chegaram à Nova Zelândia
continuam a ser motivo de discussão. Não se sabe se o moa e outras aves
corredoras (avestruzes e emas) partilharam um antepassado comum ou se
tinham ascendentes diferentes e evoluíram no mesmo sentido devido à
influência do ambiente. Se de facto todas estas aves tiveram um
antepassado comum, uma possível explicação para o aparecimento do moa na
Nova Zelândia poderá residir na separação daquela ilha do resto da
massa terrestre. O que daria origem a várias espécies isoladas de aves
corredoras, embora com parecenças.
Devido às semelhanças com alguns dinossauros, a imagem da pata super
bem preservada de um Megalapteryx didinus é confundida por várias
pessoas como sendo uma foto do pé de um dinossauro. O Megalapteryx
didinus, entretanto, estava longe de ser um dos grandes répteis que
habitaram a Terra antes do homem; na verdade ele era uma ave gigante que
não voava, endêmica da Nova Zelândia e encontrada nos “sub-alpes” da
região.
Apesar de ter um tamanho considerável e chegar a quase 34 quilos, a Moa era menor do que outras aves de seu grupo, em que algumas chegavam a mais de 250 quilos. Alguns estudos com ossos fossilizados apontaram, inclusive, que após o Holoceno, o M. didinus foi ficando cada vez menor até se tornar a ave mais baixa do grupo das Moa.
Pelo fato de não voar e ser um animal dócil, o Megalapteryx didinus
acabou extinto por volta do século XVI. Quando o povo Maori chegou ao
sul da Austrália a partir da Polinésia, entre os séculos XIII e XIV, ele
percebeu que a ave era um animal fácil de ser caçado. Em decorrência
dessa caça desenfreada para a alimentação dos Maori, a Moa acabou
extinta. Contudo, a partir de relatos e avistamentos, alguns biólogos
alegam que há a possibilidade uma pequena população da ave ter
sobrevivido até o século XIX, sendo, portanto, a última espécie a
desaparecer.
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