quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Moa extinguiu-se em 160 anos

Os moas desapareceram da Terra mais cedo que se pensava - em pouco mais um século e meio, os primeiros habitantes da Nova Zelândia, onde esta ave corredora viveu, caçaram-na até à extinção. No último número da revista "Science" explica-se porque foi tudo tão rápido.

A presença humana contribuiu, em apenas 160 anos, para a extinção do moa, uma ave corredora muito semelhante à avestruz, que existiu na Nova Zelândia. Segundo um estudo publicado na última edição da revista "Science", trata-se da "mais rápida extinção até hoje registada de um animal de grande porte".Como é que algumas centenas de colonizadores conseguiram exterminar 158 mil moas em tão poucas décadas? Jared Diamond, da Universidade da Califórnia (EUA), explica isso mesmo, num comentário que acompanha o estudo publicado na "Science": "Os animais que nunca tiveram contacto com humanos não tiveram a oportunidade de desenvolver medo de nós, por isso os nossos antepassados chegavam facilmente junto deles e matavam-nos". Outra resposta foi encontrada no próprio ciclo de vida do moa. Estas grandes aves insulares só podiam reproduzir-se a partir dos 12 anos de idade, o que torna difícil a manutenção da espécie mesmo quando poucos indivíduos adultos são mortos. 

A consanguinidade, resultante de populações pequenas e do acasalamento entre indivíduos com elevado grau de parentesco, conduz também à extinção das espécies, pois diminui a diversidade genética. Richard Holdaway e Christopher Jacomb, os dois cientistas neo-zelandeses responsáveis pela investigação, do Museu Canterbury, em Christchurch, provaram que a chegada dos seres humanos às ilhas foi determinante para calcular o tempo necessário para a extinção do moa e qualquer estimativa aponta para o desaparecimento da ave em menos de 160 anos. 

Trabalhos anteriores apontavam para que o moa se teria extinguido ao longo de mil anos. No início, por influência dos Maori, os habitantes indígenas da Nova Zelândia, originários da Polinésia, que tinham nesta grande ave uma importante fonte de alimento e ornamento. Mais tarde, foi sendo exterminado graças à colonização europeia, que depressa modificou o ecossistema de diversos locais desabitados. As alterações climáticas também chegaram a ser apontadas pelos cientistas como uma das causas para o desaparecimento do moa. Mas o estudo publicado no último número da revista "Science" vem demonstrar que o moa desapareceu assim que os primeiros Maori pisaram as areias das ilhas da Nova Zelândia, no final do século XIII. Porque foi exactamente nos primeiros locais onde habitaram os indígenas polinésios que foram encontradas pilhas de ossos de moa. "Qualquer ocupação que fosse superior a cinco anos seria detectada, quer pelos restos arqueológicos, quer pela degradação que provocava no ambiente", explica o estudo, o que também vem confirmar que os Maori acabavam por permanecer pouco tempo no mesmo local. 

Através da análise dos restos arqueológicos dos esqueletos deixados nos terrenos, os cientistas descobriram que as espécies de moa com maior porte desapareceram em apenas uma ou duas décadas e o local onde elas existiram foi abandonado pelos Maori quando já não havia mais nada para comer. "Os primeiros sítios que os Maori habitaram contêm milhares de restos desmembrados de moas de todas as espécies, enquanto os últimos locais por onde estes homens passaram não revelaram qualquer vestígio de moas", assinalou Jared Diamond. O moa era uma enorme ave corredora da Nova Zelândia, desprovida de voo (as espécies maiores nem asas possuíam), e bastante parecida com a avestruz. Entre as 11 espécies de moa, a dimensão dos indivíduos oscilava entre a de um peru e a de uma avestruz. Algumas chegavam a atingir três metros de altura e 230 quilos de peso. 

O estudo dos esqueletos e restos fossilizados revelou que a alimentação do moa consistia em ervas, folhas, grainhas, sementes e frutas. A digestão era ajudada pela ingestão de cerca de três quilos de pedras, que ficavam alojadas na moela. E os seus enormes ovos, alguns com 18 centímetros de diâmetro e 25 de comprimento, permaneciam num buraco no chão. 

Os fósseis de moas foram encontrados principalmente em pantânos, leitos de rios e grutas secas. Sabe-se agora que a extinção da ave é atribuída, de facto, aos Maori, os primeiros polinésios a chegar à Nova Zelândia. A palavra "moa" era, aliás, o termo polinésio para designar as aves em geral. Em português, a palavra faz surgir algumas dúvidas gramaticais: a maior parte das pessoas considera-a um substantivo feminino e diz "a moa", mas a verdade é que os dicionários a definem como um substantivo masculino - "o moa".Os antepassados do moa e o modo como chegaram à Nova Zelândia continuam a ser motivo de discussão. Não se sabe se o moa e outras aves corredoras (avestruzes e emas) partilharam um antepassado comum ou se tinham ascendentes diferentes e evoluíram no mesmo sentido devido à influência do ambiente. Se de facto todas estas aves tiveram um antepassado comum, uma possível explicação para o aparecimento do moa na Nova Zelândia poderá residir na separação daquela ilha do resto da massa terrestre. O que daria origem a várias espécies isoladas de aves corredoras, embora com parecenças.


Apesar de seu tamanho considerável, as Moa eram as menores aves comparativamente a outras de seu grupo.
Uma pata altamente preservada de um Megalapteryx didinus, pertencente ao grupo das Moa. Foto: Ryan Baumann. Natural History Museum, 2008.

Devido às semelhanças com alguns dinossauros, a imagem da pata super bem preservada de um Megalapteryx didinus é confundida por várias pessoas como sendo uma foto do pé de um dinossauro. O Megalapteryx didinus, entretanto, estava longe de ser um dos grandes répteis que habitaram a Terra antes do homem; na verdade ele era uma ave gigante que não voava, endêmica da Nova Zelândia e encontrada nos “sub-alpes” da região.

Apesar de ter um tamanho considerável e chegar a quase 34 quilos, a Moa era menor do que outras aves de seu grupo, em que algumas chegavam a mais de 250 quilos. Alguns estudos com ossos fossilizados apontaram, inclusive, que após o Holoceno, o M. didinus foi ficando cada vez menor até se tornar a ave mais baixa do grupo das Moa.

Pelo fato de não voar e ser um animal dócil, o Megalapteryx didinus acabou extinto por volta do século XVI. Quando o povo Maori chegou ao sul da Austrália a partir da Polinésia, entre os séculos XIII e XIV, ele percebeu que a ave era um animal fácil de ser caçado. Em decorrência dessa caça desenfreada para a alimentação dos Maori, a Moa acabou extinta. Contudo, a partir de relatos e avistamentos, alguns biólogos alegam que há a possibilidade uma pequena população da ave ter sobrevivido até o século XIX, sendo, portanto, a última espécie a desaparecer.

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