segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Cataratas do Iguaçu – formação geológica e curiosidades

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Cataratas do Iguaçu – formação geológica e curiosidades

As Cataratas do Iguaçu constituem monumento geológico mundialmente conhecido e, junto com as Cataratas do Niágara, na América do Norte, e as de Vitória, no Continente Africano, faz parte das três mais visitadas e famosas cataratas do planeta.
A palavra iguaçu, inclusive, significa “água grande“ na etimologia tupi-guarani – e não é à toa. A largura do rio chega até a 2.780 metros e, na precipitação das Cataratas, chega a se estreitar em um canal de 65 metros. Para o interesse turístico, são 19 saltos principais, cinco no Brasil e 14 na Argentina.

Você já se interessou em saber como se formou e qual a idade deste monumento?
 
Na Bacia do Paraná existem várias outras grandes cachoeiras além das Cataratas do Iguaçu, todas em áreas basálticas, cujo surgimento está vinculado à evolução da drenagem, no Quaternário e no Holoceno, que redundou no processo de implantação da própria bacia hidrográfica. Todo esse processo tem origem na evolução tectônica e no arcabouço estrutural herdado dos primórdios da evolução geológica do território brasileiro. 

Localização e características morfológicas

As Cataratas do Iguaçu situam-se no interior do Parque Nacional do Iguaçu, no extremo sudoeste do estado do Paraná. Localizam-se no Rio Iguaçu, cerca de 20 km a montante de sua foz, no Rio Paraná, onde se encontra a tríplice fronteira entre as Repúblicas do Brasil, Argentina e Paraguai. O Rio Iguaçu, por sua vez, demarca a fronteira entre o Brasil e a Argentina, em um trecho desde a foz até várias dezenas de km para montante.

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Figura 1: Mapa das Cataratas do Iguaçu, mostrando a brusca inversão do curso do rio, com indicação da toponímia dos diversos saltos. (Modif. de Maack 1968 apud Bartorelli 1997).
Origem e idade das Cataratas do Iguaçu

A origem das Cataratas do Iguaçu está mais diretamente ligada à evolução tectônica pleistocênica da Bacia do Paraná, que ensejou o aparecimento das cachoeiras de Sete Quedas, no Rio Paraná, cerca de 160 km a montante da foz do Rio Iguaçu. Segundo as interpretações admitidas presentemente, o Rio Paraná passou a cavar o extenso e profundo canal a jusante de Sete Quedas em uma época entre 1,5 e 1,8 Ma atrás quando a drenagem sofreu rearranjo significativo, com a formação do divisor de águas entre os altos cursos dos rios Paraná e Paraguai, representado pelas serras de Maracaju e Amambaí, e o aparecimento da depressão do Pantanal, logo a oeste.

O ajustamento do perfil longitudinal do Rio Paraná, como consequência de lento e contínuo processo de soerguimento global, iniciado no Plioceno, provocou a exumação de soleiras associadas aos grandes alinhamentos estruturais que cortam a Bacia do Paraná, sobretudo os direcionados a WNW e NW, como os de Guapiara, Ivaí, São Jerônimo e, principalmente, do Rio Piquiri, onde se formaram as Sete Quedas.
O aparecimento das Sete Quedas é assim resultado da mudança da drenagem pelo soerguimento da Serra de Maracaju, que interrompeu o curso de rios que demandavam o oeste, em direção à Bacia do Rio Paraguai ou, mesmo, além dela.

Ao galgar esse abaulamento, o considerável volume de água do recém-reconfigurado Paraná adquiriu grande velocidade, provocando intensa erosão nos derrames basálticos a jusante e dando origem ao profundo canyon que se desenvolveu por mais de duas centenas de quilômetros abaixo das Sete Quedas, que estavam se formando.

A partir dessa sucessão de eventos, começa a história da origem das Cataratas do Iguaçu, quando o Rio Iguaçu, do mesmo modo que os outros afluentes do Rio Paraná que passaram a desembocar a jusante de Sete Quedas, foi obrigado a se adaptar ao novo nível de base imposto pelo rápido aprofundamento do canyon recém implantado.

Quanto à idade das Cataratas do Iguaçu, dados referentes à evolução quaternária das paisagens e datações absolutas, obtidas em locais como o das cachoeiras de Vitória, no Rio Zambesi, na África, permitem situá-las no início do Pleistoceno, entre 1,8 e 1,5 Ma atrás. Considerando-se
a analogia da evolução quaternária no Brasil e na África, é possível avaliar a idade das Cataratas do Iguaçu a partir daquela de Vitória, onde existem circunstâncias particularmente dadivosas para determinação de sua idade.

Geologia 

Poucos autores se dedicaram a observações geológicas nas Cataratas do Iguaçu, destacando-se o trabalho pioneiro de Putzer (1954 apud Bartorelli 1997) que relacionou a configuração dos saltos com um padrão tectônico de fraturamento. Maack (1968 apud Bartorellli 1997) também realizou estudos geológicos nas cataratas e chegou a elaborar perfis muito semelhantes aos de Putzer.

Do mesmo modo que nas demais cachoeiras da Bacia do Paraná, o substrato litológico das Cataratas do Iguaçu é constituído por derrames basálticos da Formação Serra Geral, distinguíveis entre si pelas diferentes estruturas da base, parte central e topo, que caracterizam cada derrame individual.

A estrutura interna de cada derrame e os contatos entre eles consistem nos elementos que condicionam a morfologia e a configuração das quedas, ressaltando-se, porém, que não são os responsáveis pela sua origem. Verificou-se assim que, a montante das cachoeiras, o leito do Rio Iguaçu é constituído por basalto vesicular que caracteriza o topo de um derrame superior. A camada vesicular tem uma espessura de 15 m e distingue-se, além das vesículas, por apresentar diaclasamento horizontal bem desenvolvido. Abaixo dela ocorre basalto maciço, da parte central do derrame, com conspícuos extensos planos verticais de diáclase, cuja base encontra-se na altura da cota 140 m. O derrame superior acumula espessura total da ordem de 35 m ou pouco mais. A partir do topo do primeiro derrame, portanto, as águas despencam em um primeiro salto, com cerca 35 m de altura, que corresponde à espessura total dele.

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Figura 2: Perfil vertical ilustrativo de um derrame de basalto. Fonte: Projeto cobre em Itapiranga CPRM 1979. Autor Eugênio Cassimiro Szubert.
Abaixo desse derrame, aparece outra camada vesicular e com diaclasamento horizontal pertencente a um derrame inferior, que tem espessura de 8 m e sustenta um extenso degrau ou patamar horizontal, a partir do qual as águas novamente despencam em um segundo salto com cerca de 40 m de altura. A parte central do derrame inferior, do mesmo modo que a do superior, apresenta disjunção colunar característica, delineada por sistema de diáclases verticais. Ela tem 20 m de espessura e vai até o fundo do canyon, na cota 110 m, onde começa a aflorar basalto vesicular pertencente ao topo de um terceiro derrame de lava, com espessura indeterminada.
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Figura 3: Seção geológica das Cataratas do Iguaçu, ilustrando patamar no contato interderrames e quedas d’água verticais condicionadas pela parte central e colunar dos derrames. (Modif. de Maack 1968 apud Bartorelli 1997).
A forma das Cataratas em degraus é consequência da estrutura dos derrames de basalto citados acima.


REFERÊNCIAS 

Livro: Geologia do Brasil

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