Morfologia cárstica e tipos de depósitos em cavernas
O
relevo cárstico é particularmente desenvolvido sobre rochas carbonáticas,
podendo se referir também a paisagens similares elaboradas em outras rochas,
carbonáticas ou não, onde se destaca uma morfologia específica associada à
atuação predominante dos processos de dissolução.
Constituídas por um sistema de
canais horizontais e/ou verticais, com fraturas e estruturas geológicas de
variações irregulares, as cavernas formam um complexo sistema de condutos de
excepcional beleza cênica, onde a ação da água, em algum momento do tempo
geológico e por meio de diferentes processos, dissolveu a rocha matriz.
Os processos que atuam no
desenvolvimento de relevos cársticos, também estão presentes na evolução da
paisagem não-cárstica. Porém, no carste, há processos de dissolução e
abatimentos que são produtos da ação das águas sobre a rocha solúvel, fato que
o torna um relevo frágil e dinâmico (KOHLER E CASTRO, 2011). A paisagem
cárstica ocupa vastas áreas com presença de rochas solúveis, onde a drenagem é
predominantemente subterrânea e o relevo se apresenta de forma runeiforme e
esburacado (KARMANN, 2009).
As rochas calcárias são formadas principalmente pela calcita
(carbonato de cálcio, CaCO3), mineral que tem propriedade de se
dissolver quando entra em contato com a água acidulada. (NEVES e PILÓ,
2008). O relevo em regiões cartisticas forma uma grande quantidade de
dolinas em variedade de tamanhos, formas e padrões genéticos, limitadas
por paredões calcários lineares. Grandes maciços rochosos aflorantes ou
parcialmente encobertos; lagos com diferentes comportamentos hídricos,
associados às dolinas ou em amplas planícies rebaixadas, e uma complexa
trama de condutos subterrâneos, comumente conectados com o relevo
superficial (Figura 01) e, assim, acessíveis ao homem (CPRM, 1998).
A ação dessas águas sobre o
calcário já descrito resulta geralmente em cavernas a princípio labirínticas
justamente pela falta do caráter direcional do fluxo d’água. Em seu interior,
há fortes indícios de ciclicidade de situações como estiagens e cheias, entre
eles, deposição, lixiviação e redeposição sedimentar. Sobre a maioria delas, no
entanto, a ausência do lago determinou uma superposição de formas, originadas
principalmente do remodelamento imposto por ações intempéricas de enxurradas.
(CPRM, 1998)
Depósitos em Cavernas
Em
geral, os solos cavernícolas são formados por sedimentos clásticos provindos do
meio externo, que são carregados pelo vento, por águas fluviais e pluviais, e
utilizam os condutos subterrâneos como rotas de fluxo. Minerais dissolvidos na
água ao se precipitarem, também podem compor o sedimento cavernícola, muitas
vezes, funcionando como cimento, para a formação de rochas. O solo também pode
ser constituído pela decomposição e fragmentação da rocha matriz in situ e
ainda pode ser composto por materiais trazidos, excretados ou produzidos por
organismos que habitam esses ambientes.
Depósitos
clásticos
Os sedimentos
clásticos possuem diferentes origens, meios de transporte e ambientes de
deposição. Podem ser divididos em:
- Colapso de teto e paredes das cavernas, formando cones de deposição, constituídos por clastos angulosos;
- Brechas de colapso e óssea, que são características de cavernas e são constituídas por uma mistura de solo, precipitações secundárias, fragmentos de rocha matriz cimentados em matriz argilo-arenosa. Fragmentos de espeleotemas e ossos também podem ser encontrados em meio ao depósito e se localizam nas fissuras e cavidades por meio de fluxo gravitacional;
- Depósitos formados por correntes de água, geralmente tem a origem externa, mas podem ser formados também por blocos caídos da rocha encaixante e fragmentos de espeleotemas. Estes depósitos apresentam clastos bem selecionados e arredondados que podem variar de granulometria desde matacões até argilas.
Depósitos químicos
Os sedimentos
químicos possuem sua origem inteiramente química, ou seja, não são formados por
clastos. Dentre os vários tipos de depósitos sedimentares químicos,
encontram-se algumas precipitações calcárias em cavidades. Tais depósitos são
chamados de espeleotemas. Espeleotema é o conjunto das feições deposicionais
nas cavidades subterrâneas, que compõem as fácies cársticas e são
caracterizados como um depósito mineral secundário e são formados basicamente
por processos químicos de dissolução e precipitação de minerais.
Para haver
presença de espeleotemas é necessário haver a presença de umidade. A água
levemente ácida,
impregnada de gás carbônico, percola através das fendas presentes na rocha,
dissolvendo e transportando o calcário, sob a forma de bicarbonato de cálcio. A
água saturada em minerais, ao ressurgir em gotas na cavidade, entra em contato
com a atmosfera cavernícola e, o gás carbônico contido na gota, é liberado e o
carbonato de cálcio dissolvido pela água se precipita, sendo redepositado na
cavidade.
Para cada conjunto de características presentes, é dado um nome
específico ao espeleotema, sendo que as formas mais comuns observadas
nas cavidades são as estalactites, canudos de refresco, escorrimentos,
coraloides, estalagmites, colunas e paleopiso (Figura 02).
Depósitos
orgânicos
As cavernas também
funcionam como verdadeiras armadilhas, aprisionando os sedimentos originados na
superfície do relevo. Essa variação muitas vezes complexa está relacionada, por
um lado, com o tipo de conexão da caverna com a superfície do relevo cárstico
e, por outro, com a dinâmica sedimentar no interior da própria caverna (NEVES;
PILÓ, 2008).
Em se tratando de restos de paleovertebrados preservados em cavernas,
são reconhecidos mecanismos de entrada de animais, ou de seus restos,
nas grutas. Os animais podem ter adentrado nas grutas por diversos
motivos: (a) a procura de abrigo ou (b) para lamber sal da terra e se
perder em corredores escuros; (c) por terem sido carregados por
predadores; (d) por terem caído em fendas e abismos ou (e) por terem
sido levados por enxurradas, enquanto carcaças ou apenas seus restos
esqueletais (Figura 03).
Referências Bibliográficas
CPRM.
SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. APA Carste de Lagoa Santa. Patrimônio
Espeleológico, Histórico e Cultural. Belo Horizonte, 1998.v. III.
CPRM. SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Geodiversidade do
estado de Minas Gerais: Programa geologia do Brasil levantamento da
geodiversidade. Belo Horizonte: CPRM, 2010. 18 p.
KARMANN, I.. Ciclo da água, água subterrânea e sua ação
geológica. In: Teixeira, W.; Fairchild, T.R.;
Toledo, M.C.; Taioli, F. (Eds.). Decifrando a Terra. Companhia Editora Nacional, São Paulo, p. 113-138. 2009.
KOHLER H.C., CASTRO J.F.M. 2011. Geomorfologia Cárstica. In:
Cunha, S.B., Guerra, A.J.T. (Eds.) Geomorfologia: Exercícios, Técnicas e
Aplicações. Bertrand, Rio de Janeiro, 239-249.
NEVES, A. W.; PILÓ, B. L. O Povo de Luzia. Em busca dos
primeiros americanos. Editora Globo, São Paulo, 2008. 21-Piló, L.B. Morfologia
cárstica e materiais constituintes: dinâmica e evolução da depressão poligonal
Macacos-Baú – Carste de Lagoa Santa, MG. Doctoral Thesis, Universidade de São
Paulo, Brazil. 1998
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