O Grande Vale do Rifte na África Oriental
O Grande Vale do Rifte da África Oriental (Rift Valey)
é uma das maravilhas geológicas do mundo, um lugar onde as forças
tectônicas da Terra estão atualmente tentando criar novas placas,
separando das antigas. Um rifte pode ser visto como uma fenda na
superfície da Terra que se alarga com o tempo, ou mais tecnicamente,
como uma bacia alongada, delimitada por falhas normais que se afastam
acentuadamente em direções opostas.
O processo é tão bem exibido na África Oriental
(Etiópia-Quênia-Uganda-Tanzânia) que os geólogos atribuíram um nome a
nova placa. A Placa de Núbia compõe a maior parte da África, enquanto a placa menor que está se afastando foi denominada Placa da Somália (Figura 1). Essas duas placas estão se afastando umas das outras e também da Placa Arábica ao norte.
Figura 1:
Modelo digital de elevação mostrando os limites das placas tectônicas. O
mapa base é uma imagem de topografia de radar do ônibus espacial da
NASA.
A
placa mais antiga e melhor definida ocorre na região de Afar, na Etiópia. O
ponto em que essas três placas se encontram, na mesma região, forma o que é
conhecido como Junção Tripla, bem
ilustrada na Figura 2, onde duas das placas visivelmente são ocupadas pelo Mar
Vermelho (Red Sea) e pelo Golfo de Aden (Gulf of Aden) e a terceira é direcionada
para sul.
O rifte da África Oriental não se limita ao “Chifre da África”. Mais a
sul da junção também há muita atividade, incluindo o ramo oeste,
passando pelo Quênia, Tanzânia e pelo Rifte do Lago Albert (Albertine Rift) que contem a região dos “Grandes Lagos”, da África Oriental (Figura 2).
Já parte do ramo leste foi denominado Rifte do Quênia ou Gregory Rift (depois do geólogo que o mapeou no início dos anos 1900). Essas duas divisões juntas formam os Riftes da África Oriental, ambos são frequentemente agrupados com o Vale do Rifte da Etiópia para formar o Sistema de Riftes da África Oriental.
O sistema completo se estende por milhares de km somente na África e
por mais mil se incluirmos o Mar Vermelho e o Golfo de Áden como
extensões. Além disso, existem várias outras estruturas bem definidas,
mas menores, chamadas Grabens, que têm caráter de rifte e estão
claramente associados geologicamente aos riftes principais. Alguns
receberam nomes que refletem isso, como o Rifte de Nyanza, no oeste do Quênia, perto do lago Victoria.
Assim, pode-se assumir um único rifte em algum lugar da África
Oriental com uma série de outros distintos, todos relacionados e
produzindo a geologia e topografia distintas da África Oriental.
Como se formaram?
A teoria geológica mais atual sustenta que protuberâncias são
iniciadas pelo fluxo de calor elevado do manto (estritamente a
astenosfera), conhecida por pluma, aquecendo a crosta sobreposta e
fazendo com que ela se expanda e se frature, em uma série de falhas
normais, formando a estrutura clássica Horst e Graben dos vales de rifte (Figura 3). Essas protuberâncias podem ser facilmente vistas como planaltos elevados em qualquer mapa topográfico da área (Figura 1).
O
processo de separação associado à formação de fendas é frequentemente precedido
por enormes erupções vulcânicas que fluem por grandes áreas e são geralmente
preservadas/expostas nos flancos das fendas. Essas erupções são consideradas
por alguns geólogos como “basaltos de inundação” – a lava é rompida
ao longo de fraturas (e não em vulcões individuais) e atravessa a terra em
lençóis como a água durante uma enchente.
Tais erupções podem cobrir grandes áreas de terra e desenvolver
espessuras enormes (as Armadilhas Deccan da Índia e as Armadilhas
Siberianas são exemplos).
Se a separação da crosta continuar, se formará
uma “zona esticada” de crosta diluída, consistindo de uma mistura de
rochas basálticas e continentais que eventualmente caem abaixo do nível
do mar, como aconteceu no Mar Vermelho e no Golfo de Aden. Separações
adicionais levam à formação de crosta oceânica e ao nascimento de uma
nova bacia oceânica.
O rifte da África Oriental
Se
o processo de rifteamento descrito ocorrer em um cenário continental, teremos
uma situação semelhante à que está ocorrendo agora no Quênia, onde o rifte da
África Oriental está se formando. Nesse caso, é chamado de “rifte
continental” (por razões óbvias) e fornece uma visão do que pode ter sido
o desenvolvimento inicial do Vale do
Rifte da Etiópia.
Embora
os ramos oriental e ocidental tenham sido desenvolvidos pelo mesmo processo,
eles têm características muito diferentes.
O Ramo Oriental é caracterizado por
maior atividade vulcânica, enquanto o Ramo Ocidental é caracterizado por bacias
muito mais profundas que contêm grandes lagos e muitos sedimentos (incluindo os
Lagos Tanganyika, o segundo lago mais profundo do mundo e o Malawi).
Recentemente,
erupções de basalto e formação de fendas ativas foram observadas no Vale do Rifte da Etiópia, o que nos
permite observar diretamente a formação inicial de bacias oceânicas em terra.
Esta é uma das razões pelas quais o Sistema
de Riftes da África Oriental é tão interessante para os cientistas.
A
maioria das fendas em outras partes do mundo progrediu a tal ponto que agora
estão debaixo d’água ou foram preenchidas com sedimentos e, portanto, são
difíceis de estudar diretamente.
O Sistema
de Riftes da África Oriental, no entanto, é um excelente laboratório de
campo para estudar um sistema de rifteamento moderno e em desenvolvimento
ativo.
Esta
região também é importante para entender as raízes da evolução humana. Muitos
achados fósseis de hominídeos ocorrem dentro da fenda, e atualmente se pensa
que sua evolução possa ter desempenhado um papel integral na formação de nosso
desenvolvimento.
A estrutura e a evolução do rifte podem ter tornado a África Oriental
mais sensível às mudanças climáticas, que levam a muitas alternâncias
entre períodos chuvosos e áridos. Essa pressão ambiental poderia ter
sido o impulso necessário para que nossos ancestrais se tornassem
bípedes e mais inteligentes à medida que tentavam se adaptar a esses
climas instáveis.
Referências
https://geology.com/articles/east-africa-rift.shtml. East Africa’s Great Rift Valley: A Complex Rift System. Acesso em 03 de dezembro de 2019.
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