Extinção dos dinos pode ter começado antes do asteroide – graças a erupção
Fósseis de concha revelam que um aumento na concentração de CO2 nos oceanos fez os ecossistemas entrarem em colapso antes do pedregulho finalizar o serviço.
Há 66 milhões de anos, um asteroide com 10 km de diâmetro
colide contra a Península de Yucatán, no México, e aniquila cada réptil,
planta, peixe etc. em um raio de alguns milhares de quilômetros.
Uma sequência de tsunamis monumentais passa o rodo nas zonas
costeiras dos demais continentes, e 15 milhões de toneladas de fuligem –
a maioria oriunda de incêndios florestais – impede a luz solar de
penetrar na atmosfera por mais de um ano. A temperatura média, na
superfície, cai 28 ºC – nos oceanos, 11 ºC. Sem luz, não há
fotossíntese. Sem plantas para comer, morrem os animais herbívoros. Sem
herbívoros para comer, morrem também os carnívoros (se você quer mais
detalhes sobre esta amostra grátis de apocalipse, leia este texto).
Essa é uma história conhecida – um dos únicos capítulos da
história da Terra que faz parte do imaginário popular. Apesar disso, a
real parcela de responsabilidade do pedregulho cósmico na extinção da
fronteira K-Pg é motivo de debate na geologia.
Alguns especialistas
defendem que os ecossistemas da Terra, no final do Cretáceo, já haviam
entrado em colapso graças a mudanças bem mais graduais no equilíbrio da
atmosfera e dos oceanos. E que o impacto foi só a cereja no bolo – não o
fator essencial.
Pesquisadores da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA),
analisaram conchas fossilizadas de caramujos e mariscos que viveram
nessa época (elas foram coletadas na Antártida). E notaram que a
composição química desses órgãos de proteção mudou perceptivelmente nos
anos que antecedem o impacto – um reflexo do aumento na concentração de
gás carbônico na água do mar. O estudo será publicado em janeiro no
periódico Geology.
Esse CO2 todo veio dos basaltos de Deccan, no atual território da Índia. Os planaltos acidentados dessa província, que ocupam 500 mil km2 –
a mesma área da Espanha –, se formaram graças à deposição de uma camada
de lava de 2 km de espessura, cujo acúmulo, não por coincidência,
começou há 66,25 milhões de anos – pouco antes da queda do asteroide.
Uma erupção capaz de cobrir uma Espanha com 2 km de rocha derretida é
um fenômeno impensavalmente violento. Com potencial para desencadear
uma extinção em massa sozinho, sem uma ajudinha do espaço. “Os dados
coletados sugerem que o ambiente já estava mudando antes do choque do
asteroide”, afirmou em comunicado Benjamin Linzmeier, um dos autores do estudo. “Tais mudanças parecem relacionadas à erupção que gerou os basaltos de Deccan.”
Andrew Jacobson, que também participou da descoberta, comentou: “A
Terra já estava perceptivelmente sob estresse antes da extinção em
massa. O impacto do asteroide coincide com uma instabilidade
pré-existente no ciclo do carbono. Mas isso não significa que nós
podemos responder o que realmente causou a extinção.”
A discussão sobre o real motivo da extinção K-Pg talvez nunca se
resolva. A ciência, afinal, é feita de revisar seus próprios preceitos.
Mas o recado é claro: ninguém precisa de um asteroide para detonar a
Terra. Um aumento brutal na quantidade de CO2 despejada na atmosfera dá conta do recado. E em gás carbônico o ser humano é especialista.
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